quinta-feira, 31 de julho de 2008

É muito fácil ser desmentido pelos números...

... mas isso só ocorre quando o jornalista tem algum tipo de compromisso com a verdade.

Genésio Boff exercendo seu lado mãe Dinah:

Igreja Católica sofrerá "grande crise interna", afirma Leonardo Boff

A matéria toda é uma grande babaquice, como aliás costuma ser quando a fonte é um dos maiores hereges do planeta. Mas chamo a atenção para o seguinte:
"O crescimento zero da Igreja Católica no planeta" é outro fator que atiçará sua crise interna, vaticinou Boff.
O repórter da France Presse podia muito bem ter lembrado na matéria que o crescimento da Igreja Católica não tem sido "zero". OK, pode não ter subido estratosfericamente, mas qualquer matemático pode explicar o motivo: quem já é muito grande não tem mais como se expandir a grandes taxas, ao contrário dessas igrejolas que conseguem, sei lá, 10 mil fiéis a mais e isso já é um aumento de 200%. No caso de uma religião de 1,1 bilhão de fiéis, a não ser que haja conversões em massa (por exemplo se todos os anglicanos se revoltassem com a fúria ordenatória de Canterbury e virassem católicos), as taxas de crescimento serão baixas, mas não "zero" como gostaria o diaBoff.

Aliás, vocês repararam que o diaBoff foi ver o Lugo, na verdade, para pedir emprego?

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Mais uma vez os padres-candidatos

E o Correio Braziliense repete o mesmo erro destacado aqui anteriormente.

Padres estão em busca de votos no entorno do DF

A matéria recorda o que a Igreja diz: que o Direito Canônico proíbe a vinculação de padres a partidos políticos. Mas o próprio assessor de imprensa da CNBB, padre Geraldo (que, diga-se de passagem, teve uma atuação lamentável naquele episódio do DVD da Campanha da Fraternidade desse ano), já admite que "com jeitinho vai". Aí eles entrevistam dois padres-candidatos, mas nada de entrevistarem o bispo deles (seria o arcebispo de Brasília) para saber se ele deu permissão (contrariando o Direito Canônico) ou se os padres foram desobedientes mesmo.

Lembremo-nos de que, quando o Fernando Lugo quis ser presidente do Paraguai, o Vaticano suspendeu o bispo. A pergunta que os jornais brasileiros não fazem é "por que isso não acontece aqui também?" Afinal, temos ou padres desobedientes ou bispos desobedientes. Ou as duas coisas, infelizmente.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Com vocês, o jornalista-adivinhador

A notícia que saiu hoje em vários lugares não tem nada de errado, digamos. Quer dizer, tem: chamar esse povo de "católicos".

Católicos pedem ao Papa liberação de contraceptivos

A matéria é cheia de aberrações, mas promovidas não pelo repórter, e sim pelos tais "católicos" signatários da carta. Mas, lá no fim, vejo, com surpresa:
O correspondente da BBC em Roma, David Willey, afirmou que é muito provável
que Bento 16 preste atenção no apelo feito pela ala liberal para mudar a
doutrina da Igreja.
Agora repórter virou palpiteiro? E ainda pra dar palpite totalmente fora do alvo como esse? Quer dizer que o jornalista acha "muito provável" que o Papa, que ainda por cima é ninguém menos que Joseph Ratzinger, vá dar ouvidos a esse povo?

Todos juntos cantando esse sensacional samba de Noel Rosa:

Quem é você, que não sabe o que diz?
Meu Deus do céu, que palpite infeliz...

Claro, a não ser que "prestar atenção" signifique que o anúncio de meia página dessa gente no Corriere esteja tão chamativo que o Papa, na sua leitura matinal de jornais, olhe e pense "que coisa colorida, vou ver o que é isso"...

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Jesus disse que não dava pra servir a dois senhores

Saiu essa semana na Folha Online:

Padres se candidatam a prefeito e enfrentam restrições da Igreja

Bom, é o tipo da coisa que não me surpreende. Nem o fato de ver um padre-candidato petista e outro do PSOL, partidos socialistas. Infelizmente a Teologia da Libertação contaminou tanto a Igreja no Brasil que é até esperado que um padre que dá mais valor ao Paço Municipal que à igreja paroquial seja mesmo de alguma dessas quadrilhas como o PT.

Mas, se eu fosse o editor que estivesse olhando a reportagem, perguntaria ao repórter se ele tentou falar com os bispos das dioceses onde os candidatos atuam, para saber o que eles pensam. Vocês repararam que não tem a opinião de nenhum dos bispos responsáveis lá? O único "dom" na matéria, Hugo Cavalcante, é assessor da CNBB e sequer é bispo (mas o "dom" não foi erro da Agência Folha não, pois ele é monge beneditino).

Entrevistar os bispos seria não apenas necessário (dentro de uma ótica jornalística), mas também útil por algumas razões. Primeiro, porque a matéria dá a impressão de que está tudo bem com os padres-candidatos, que teriam o OK do bispo para uma situação objetivamente irregular, segundo o Código de Direito Canônico -- será que é mesmo assim? Segundo, que caso os bispos achassem que não tem problema nenhum, precisariam, sim, ser colocados contra a parede: como é que eles deixam rolar solto esse desrespeito à lei canônica?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

É, o feeling não engana

Obrigado ao Tavolaro pela dica!

CBCP hasn’t ok’d condom use for HIV/AIDS patients

Resumo: a Conferência Episcopal Filipina não aprovou coisíssima nenhuma, e aproveita para dar um pau nos veículos de comunicação que distorcem o que a Igreja diz para fazer a coisa se adequar à agenda da mídia (no caso, a agenda pró-camisinha).

A informação dos bispos filipinos já é suficiente para mim, mas eu ainda fico curioso para saber o que o porta-voz da conferência episcopal teria dito, para permitir esse tipo de distorção por parte do repórter da EFE.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Será mesmo verdade?

Vindo da Efe, eu não tenho certeza de nada.

Igreja filipina libera preservativos para portadores do HIV

A informação é atribuída a um porta-voz da conferência episcopal filipina. Mas então por que não há nada sobre o assunto na seção de notícias do site oficial da conferência?

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Minha nossa, a semana ainda está rendendo!

Assim como demorei um pouco para comentar o texto da Veja, também já tinha visto um artigo do Le Monde republicado pela Falh... oops, Folha de S.Paulo. Comento agora. Também é só para assinantes, eu recebi por e-mail. Segura que é meio grande.
Bento 16 resgata tradicionalismo

Vinte anos após excomunhão de bispo anti-reforma, liturgia conservadora volta a dominar Santa Sé

Papa alemão apóia retorno à tradição como resistência à secularização e ressuscita o modelo de uma Igreja Católica mais autoritária

HENRI TINCQ
DO LE MONDE

Vinte anos atrás, em 30 de junho de 1988, o bispo francês Marcel Lefebvre desafiou a autoridade do papa João Paulo 2º. Em seu seminário de Ecône, na Suíça, reduto do integrismo católico, consagrou quatro bispos para garantir a continuidade da tradição contra o concílio Vaticano 2º, que chamava abertamente de herético.
Anos de discussões com a Cúria romana (sobretudo com Josef Ratzinger) foram jogados por terra. Os fiéis se ajoelhavam, beijavam seus anéis. Ao mesmo tempo, um decreto fulminante de Roma excomungava Lefebvre (morto em 1991) e aqueles novos bispos, que passaram a ser cismáticos (frutos de um cisma).
Tem um erro aí. O Papa não excomungou ninguém. Só deixou claro que, por causa das ordenações sem mandato papal, Lefebvre, o brasileiro dom Antônio de Castro Mayer e os quatro bispos ordenados (Fellay, Williamson, de Mallerais e um outro cujo nome não me vem à mente agora) já estavam automaticamente excomungados. O que o Papa fez foi simplesmente deixar clara a situação.
Duas décadas mais tarde e apesar dos fracassos sucessivos das tentativas de reconciliação empreendidas por João Paulo 2º e, sobretudo, por Bento 16, o tradicionalismo, se não ganhou novos textos, conquistou mais espaço nas cabeças.
Enganaram-se aqueles -e eram muitos, na época- que interpretaram aquele episódio dos clérigos de Ecône, 20 anos atrás, como expressão de um folclore superado, destinado à lata de lixo da história, como nostalgia beata do incenso, do hábito e da missa em latim.
Os tradicionalistas continuam presentes. Majoritariamente francês em sua origem -devido à nacionalidade de Lefebvre e às reações francesas contra a liturgia moderna-, o fenômeno ganhou mundo.
A fronteira está cada vez mais porosa, com manifestações de fé e devoção encorajadas por Bento 16, por um clero jovem e por comunidades novas que defendem o retorno à tradição como modo de resistência à secularização.
Seminários da Fraternidade Santa Pio 10, núcleo irredutível do cisma, pipocaram na Alemanha, na Austrália, nos Estados Unidos (no Minnesota) e na América Latina. As gerações de sacerdotes (quase 500) que saem deles e de fiéis (600 mil, segundo fonte do Vaticano) herdeiros dessa dissidência vêm se renovando e já se instalaram em mais de 30 países.
Atenção, revisão! "Santa Pio X"? De qualquer modo ainda é melhor que a "Fraternidade do Santo Pio" que eu li uma vez.

Hã? Eu?

Antiecumenismo
Tipicamente europeu, esse modelo de igreja autoritária, antiecumênica e antimoderna, dominada pela figura do santo padre encarregado do sagrado, foi exportado. Para os tradicionalistas, ele é o avalista dessa parte de mistério, de emoção e de beleza que é própria de toda tradição e que a missa moderna teria sacrificado.
Como assim anti-ecumênica? Ecumenismo é o diálogo com o objetivo de trazer de volta os protestantes e ortodoxos à Igreja Católica. Garanto que com isso Lefebvre e o povo lá da SSPX concorda. O problema é que uns porra-loucas ligados à maldita TL começaram a chamar de "ecumenismo" um tanto-faz doutrinal que consistia em dizer que tudo leva a Deus, que não importa no que você acredita... e, por incrível que pareça, os rad-trads caíram nessa lenga-lenga, apesar de tudo o que dizem os documentos do Vaticano sobre o assunto.
Num mundo em explosão, o latim reencontrou o lugar de língua universal, e as concessões feitas às tradições culturais na Índia ou África empurrariam em direção à tradição os fiéis ligados a uma liturgia e um catecismo únicos.
Os tradicionalistas encontraram um aliado no papa alemão. Os fiéis se espantam com as audácias cometidas por Bento 16 em matéria litúrgica, na contracorrente de toda uma evolução registrada desde o Vaticano 2º. O mestre de cerimonial de João Paulo 2º foi substituído.
Bento 16 reinstaurou o trono de cor púrpura, bordejado de ouro, dos papas anteriores ao concílio, renunciou ao bastão pastoral de seus predecessores, símbolo de uma Igreja mais humilde, e trouxe de volta a férula em formato de cruz grega usada pelo papa mais reacionário do século 19 (Pio 9).
Alguém pode me explicar o que faz de Pio IX um "reacionário"? E por que a cruz pastoral de Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II representava "uma Igreja mais humilde"?
Bento 16 restaurou o costume da distribuição da hóstia de joelhos e pela boca, destinada a tornar-se a prática habitual das celebrações pontificais, declarou no LOsservatore Romano seu chefe de cerimonial, monsenhor Guido Marini.
Eu devo estar pirando. Eu podia garantir que a comunhão de joelhos e na boca já era prática habitual das celebrações pontificais mesmo na época de João Paulo II...
A França corre o risco de ficar estarrecida quando Bento 16 visitar o país, em setembro.
Um ano mais tarde, o decreto papal de julho de 2007 liberalizando o rito antigo em latim certamente não provocou manifestações acaloradas. Na França, esse chamado em favor da missa antiga teria sido ouvido por apenas 0,1% dos fiéis.
O número de paróquias em que ela é celebrada há um ano não passa de 40, somada às 132 que já a propunham.
Mas os tradicionalistas não desistiram de sua guerra insidiosa contra os bispos, os padres e a Cúria modernistas. Eles rejeitaram o protocolo de acordo proposto por Roma para solucionar o cisma, que lhes exigia apenas que se comprometessem a respeitar a autoridade e a pessoa do papa.
Vítima de um jogo interminável de disputas, Bento se viu pressionado a anular as excomunhões de junho de 1988 e atribuir aos padres tradicionalistas um estatuto sob medida de prelado nullius, que lhes garantiria a vantagem dupla de serem reconhecidos por Roma e se manterem independentes dos bispos.
Se viu "pressionado" a fazer o que? Bom, em primeiro lugar, as excomunhões nunca foram anuladas. É verdade que a SSPX pede a anulação, mas do jeito que o texto foi escrito (ou traduzido), parece que a anulação já ocorreu.
Seria realmente esse o papa que nunca teria conseguido libertar-se de seu modelo bávaro, cujo cotidiano girava em torno da missa, da família, do Angelus dos campos e da música das cidades?
É duro imaginar que esse filósofo que dialogou com figuras do pensamento laico (Florès dArçais na Itália, Habermas na Alemanha), que orou numa mesquita (em Istambul), visitou sinagogas, escreveu encíclicas em tom moderno sobre o amor, possa amanhã abrir a porta aos cismáticos de 1988.
E por que é duro imaginar isso? A Igreja abre as portas a todos os que desejam fazer parte dela. Abre as portas aos anglicanos insatisfeitos com os rumos que Canterbury vem tomando. E abre as portas inclusive os cismáticos da SSPX. Abriria as portas até mesmo aos teólogos da libertação, se eles não odiassem tanto a Igreja e o Papa.
Em todas as religiões, a liturgia é a expressão de uma fé. Ela não pode ser dissociada da doutrina. Acontece que a direção foi determinada há mais de 40 anos, no concílio Vaticano 2º, mantido por Paulo 6º e João Paulo 2º. Hoje, reina em Roma um neoconservadorismo incentivado não tanto pelo papa quanto por grupos que nunca renunciaram à igreja autoritária do passado. A reintegração dos cismáticos corre o risco de ser efetuada ao preço de uma erosão das conquistas dos últimos 40 anos. Seria o triunfo póstumo de Lefebvre.
Engraçado -- se a direção foi determinada pelo Vaticano II, maravilha! Pois o Vaticano II pedia órgão e canto gregoriano; pedia a manutenção do latim, pelo menos no cânon. Não pedia guitarra, bateção de palma e leigos de jaleco distribuindo comunhão.

Mais uma prova de que jornalistas mal-informados acabam atribuindo ao Concílio coisas que nunca passaram pela cabeça dos padres conciliares.

Pobre João XXIII...

... quantas bobagens as pessoas defendem, usando o nome do Papa que convocou o Vaticano II.

Lembram do caderno especial do Jornal do Commercio, no Recife? O Jorge Ferraz está colocando, aos poucos, os textos. Um pior que o outro.

A certa altura, diz o jornal:
[O] papa João XXIII ensinou que era preciso “abrir as janelas do Vaticano para que os ventos da história soprassem a poeira que entulha o trono de Pedro”
Assim como o Jorge, eu também já tinha ouvido essa metáfora das janelas. Mas nunca para "soprar poeira entulhada no trono de Pedro". Claro que o jornal não diz nem quando, nem onde o Papa teria dito isso. Então eu me lancei numa procura online e offline pela citação correta. É certo que no discurso de abertura do Concílio não está. Nem nos documentos que estabelecem a convocação e a data de início do Concílio. Só resta a homilia de 25 de janeiro de 1959, em que o Papa falou do Concílio pela primeira vez. Mas essa homilia eu não consigo achar em lugar nenhum.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Duas boas almas

O Roberto Zanin e o Fernando Tavolaro me mandaram a íntegra da matéria da Veja sobre os acessórios do Papa. Nem adianta botar link, é reservada para assinantes. Por causa disso, vai a matéria toda copiada e colada aqui.

Bento XVI com seu camauro

A mensagem das roupas

Bento XVI não veste Prada, mas Cristo. Bem de acordo com a
linha que adota, seu vestuário é um resgate da tradição católica

Vanessa Vieira

O papa Bento XVI está longe de ter o carisma de seu antecessor no trono de Pedro, mas sobressai pelo guarda-roupa. Os chapéus, gorros e sapatos vermelhos, assim como os óculos escuros, chegaram a lhe valer um posto na galeria dos homens "que melhor sabem combinar os acessórios no vestuário", numa tirada maldosa da revista americana Esquire. Espalhou-se também o boato de que os rubros sapatos papais seriam da badalada marca italiana Prada, o que foi desmentido pelo Vaticano. Os acessórios usados pelo papa, na verdade, não guardam nenhuma relação com a moda nem representam uma opção estética. Eles estão carregados de significado religioso. São peças adotadas por pontífices do passado, resgatadas por Bento XVI como uma forma de recuperar a tradição da Igreja e, desse modo, reconectar a instituição à sua história milenar. "Mais do que qualquer outro papa da história recente, ele tem um profundo interesse nos trajes litúrgicos e não-litúrgicos que haviam sido abandonados", disse a VEJA o padre Keith Pecklers, professor de história litúrgica da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. "Isso sugere seu desejo de retomar elementos que ele acredita terem sido perdidos depois das reformas do Concílio Vaticano II."

Originalmente, os sapatos papais eram feitos de couro tingido de vermelho e decorados com uma cruz dourada, que devia ser beijada por aqueles que se dirigiam ao pontífice. Paulo VI, papa entre 1963 e 1978, eliminou a cruz dos calçados e interrompeu o costume do beijo. João Paulo I ainda usou os sapatos vermelhos, bem como João Paulo II no começo de seu pontificado. Logo depois, entretanto, o papa polonês os substituiu por sapatos marrons comuns. O vermelho dos sapatos representa o sangue do martírio de Cristo. O camauro e a mozeta, recuperados também pelo alemão, são acessórios que estavam em desuso desde o pontificado de João XXIII, encerrado em 1963. O camauro, um gorro de veludo vermelho enfeitado com pele de arminho, remonta ao século XIII. Aparece em pinturas que retratam pontífices como Inocêncio VII, Julio II, Bento XIV e Clemente XIII. O vermelho, nesse caso, explica-se pelo fato de ter sido, no passado, a cor distintiva dos papas na hierarquia da Igreja. Isso mudou no século XVI, quando Pio V instituiu o branco como a cor pontifícia. A mozeta é uma capa curta que cobre os ombros, parte das costas e dos braços. Uma das referências mais antigas do uso dessa peça vem de um afresco de Melozzo da Forlì, de 1477, que retrata o papa Sisto IV. A mozeta pode ser vermelha ou branca – na segunda versão, é usada na Páscoa e representa a alegria pela ressurreição de Cristo.

Bento XVI passou a empunhar um cajado dourado e com a extremidade em forma de cruz grega. Ele é bem diferente do utilizado pelo papa anterior, que era prateado e tinha um crucifixo na ponta. O de Bento XVI pertenceu a Pio IX – cujo pontificado se estendeu entre 1846 e 1878. Além de mais leve do que o anterior, ele está mais de acordo com a tradição papal – que, até Paulo VI, jamais havia colocado um crucifixo na sua extremidade. O acessório é uma referência ao cajado com que o pastor conduz o rebanho e àquele com o qual Moisés conduziu o povo eleito à liberdade. Em seu livro O Espírito da Liturgia, lançado em 2000, Bento XVI já ressaltava a importância de reforçar a fé através do aspecto místico das celebrações, enriquecendo-as com símbolos tradicionais. Como diz um artigo recente do L’Osservatore Romano, jornal editado no Vaticano, o papa não se veste com Prada, mas com Cristo.

Chapéu Saturno

O vermelho desse acessório era a cor distintiva dos papas na hierarquia da Igreja até o século XVI, quando Pio V instituiu o branco. Os papas João XXIII e João Paulo II chegaram a usar o saturno em viagens a países tropicais, mas não o adotaram sistematicamente

Pálio

A peça de lã branca evoca a ovelha desgarrada, carregada nos ombros pelo bom pastor. As cruzes vermelhas representam as chagas de Cristo. No começo de seu pontificado, Bento XVI vestia um modelo de pálio fora de uso desde o século IX. Recentemente, optou por um modelo semelhante ao de seus antecessores imediatos

Camauro

Assim como o chapéu saturno, o gorro vermelho, usado no inverno por Bento XVI, é uma herança do tempo em que essa era a cor oficial do pontífice. João XXIII foi o último papa do século passado a usar o camauro, que caiu em desuso a partir do pontificado de Paulo VI, iniciado em 1963

Mozeta

A capa curta, feita de damasco – uma seda com fios de cetim em alto relevo –, é branca, em referência à renovação simbolizada pela ressurreição de Cristo. A mozeta, usada pelo pontífice na Páscoa, foi introduzida no século XIII e não era vista desde o fim do pontificado de João XXIII, em 1963. Os últimos papas só adotaram a versão de verão da roupa, de cetim vermelho

Cajado

Simboliza o cajado com que o pastor conduz as ovelhas e aquele com que Moisés conduziu o povo eleito à liberdade. O utilizado pelo atual papa pertenceu a Pio IX, que governou a Igreja entre 1846 e 1878. João Paulo II usava o mesmo de seus antecessores imediatos, João Paulo I e Paulo VI, prateado e com um crucifixo na extremidade. O de Bento XVI traz uma cruz grega

Sapatos vermelhos

Representam o sangue do martírio de Cristo. Antes do pontificado de Paulo VI, apresentavam apliques de cruzes douradas, que simbolizavam a autoridade papal. João Paulo II chegou a usar os sapatos vermelhos no início de seu pontificado, mas logo os substituiu por sapatos marrons comuns.
O que posso dizer? Vanessa Vieira mandou muito bem. Ótima fundamentação tanto histórica quanto litúrgica (e inclusive artística, ao mencionar obras que retratam outros Papas usando os acessórios retomados por Bento XVI). O principal mérito da reportagem é mostrar que cada objeto tem seu significado, e que não se trata de "sair bonito" na foto. Só faltou mesmo foi dizer que o "cajado" se chama, na verdade, férula. Quem usa cajado (quer dizer, o nome correto é báculo, mas tem formato de cajado) são os bispos. Um detalhe menor, reconheço, que em nada prejudica a reportagem.

Isso aí, continuem tentando

Dando uma olhada em outros blogs católicos em inglês, achei isso aqui. É uma notícia do New York Times, publicada domingo:

Ancient tablet ignites debate on Messiah and ressurrection

Dando uma boa resumida, para quem não fala inglês: uma placa com um texto em hebraico, datada de algumas décadas antes do nascimento de Cristo, menciona um Messias que deve sofrer e ressuscitar depois de três dias, ou seja, um pouco oposto à visão que se tinha de um Messias triunfante que chegaria com tudo e daria um pé nos romanos.

Ainda não se tem certeza da autenticidade do negócio, mas o curioso é que a reportagem tenta fazer essa "descoberta" (entre aspas porque a placa não foi descoberta agora; já estava em posse de um colecionador faz uns 10 anos) comprometer... o Cristianismo! Primeiro, um professor de Berkeley diz que alguns cristãos acharão a descoberta chocante, pois contesta a "singularidade de sua teologia"; depois, um professor da Universidade Hebraica de Jerusalém diz que o conteúdo da tábua balançaria a visão básica do Cristianismo, porque a ressurreição no terceiro dia se tornaria uma idéia criada antes de Jesus... pelamordedeus, o que o sujeito tenta insinuar? Que Jesus e seus discípulos "copiaram" a idéia? O mesmo professor afirma que, no Novo Testamento, Jesus faz várias previsões sobre seu sofrimento, morte e ressurreição, mas que se acreditava que isso teria sido incluído depois pelos seus seguidores. Então, a tábua "sacode" essas teorias porque prova que, já na época de Jesus, havia a idéia de um Messias sofredor e que ressuscitaria no terceiro dia.

Bom, tudo isso não passa de palhaçada. Afinal de contas, parece que o repórter e seus entrevistados vêem um "problema" no fato de Jesus ser o cumpridor de profecias judaicas. São Mateus gastou um Evangelho inteiro para mostrar aos judeus que Jesus era o Messias profetizado em várias passagens do Antigo Testamento. Então o que há de extraordinário no fato de aparecer mais uma profecia realizada por Jesus? Pelo contrário: para mim, a tábua (caso seja mesmo autêntica) seria uma confirmação de que Jesus era realmente o Messias esperado pelos judeus.

A não ser, claro, que o pressuposto do repórter e dos entrevistados seja o de que Jesus fosse uma farsa. Aí a reportagem faz sentido. Porque, digamos, até então o Cristianismo seria uma farsa digna de Oscar de roteiro original: o Messias que sofre, é morto pelos romanos, ressuscita em três dias... realmente, uma historinha nova, muito bem bolada pelos primeiros cristãos. Mas aí aparece a tal tábua e se "prova" que os cristãos não poderiam levar mais que o Oscar de roteiro adaptado, afinal eles não fizeram mais que copiar a historinha da ressurreição em três dias de uma crença já difundida na época... ou seja, mais uma tentativa de desacreditar o Cristianismo na grande imprensa.

Isso é mais uma confirmação daquela frase que ouvi uma vez, e só não me lembro de quem é: para quem quer acreditar, nenhuma prova é necessária; para quem não quer, nenhuma prova será suficiente.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Dom Clemente agora já tem para onde ir

Lembram de dom Clemente Isnard, que como Catilina abusou da nossa paciência naquela entrevista em que fez de tudo, menos expor doutrina católica? Pois bem, agora ele já tem para onde ir, pois os anglicanos, que já ordenavam ao sacerdócio tudo o que encontrassem pela frente, resolveram passar a ordenar mulheres ao episcopado.


Sonia Hernandes vai perder a exclusividade de ser a única "bispa" do planeta... (a foto é cortesia da polícia americana)

Bom, o Vaticano lamentou a decisão, e aqui você lê a versão da Reuters para o caso (republicada pelo site da Gazeta do Povo).

A certa altura, a Reuters diz

A Igreja Católica veta as mulheres no clero sobre a argumentação de que Jesus só escolheu homens como apóstolos.
Isso é correto: a Igreja realmente veta mulheres no clero. Mas o fato de os Apóstolos serem homens é um dos argumentos -- outro argumento, que eu considero bem forte, se relaciona ao fato de o próprio Cristo ser "homem do sexo masculino", como dizem os Cassetas, e de o sacerdote agir in persona Christi.

Mas, na carta Ordinatio Sacerdotalis, o Papa João Paulo II usa apenas o argumento dos apóstolos, aprofundando bastante no assunto e explicando por que não se pode ordenar mulheres. Ele ainda afirma que isso deve ser considerado como definitivo por todos os fiéis da Igreja -- viu, dom Clemente?

Novidade no blog

Vejam aí do lado, uma listinha de blogs e sites. A maioria é sobre religião, mas tem algumas outras coisas, como o do jornal onde trabalho, e o hilário Opinião Popular, uma sátira do modo de pensar esquerdóide. Com o tempo, pretendo ir acrescentando mais coisa interessante.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

E dá-lhe Águia!

Ops, desculpem o meu momento "torcedor do São José Esporte Clube".

O Jornal de Santa Catarina circula com uma edição única de fim de semana, e tem um caderno chamado Viver! que por sua vez traz uma página esotérica chamada Alma Zen. No jornal deste fim de semana que passou, há um textinho sobre o Garuda, um deus dos pássaros indiano, meio gente, meio águia. Entre as curiosidades sobre o Garuda, lemos o seguinte:
Garuda é também a palavra alada, o triplo Veda, um símbolo do verbo, ou seja, o mesmo que a águia representa na iconograifia cristã.
Obviamente eu não entendo nada de hinduísmo. "Triplo Veda", pra mim, seria um produto pra se comprar em supermercado ou casa de ferragens para consertar ou prevenir vazamentos. Mas o que interessa aqui é a "iconografia cristã".

Até onde eu sei, o que a águia realmente simboliza é o evangelista São João. Aqui dois exemplos que eu conheço "pessoalmente:

Basílica de São Clemente, Roma, o mosaico absidal mais espetacular que eu conheço:


E catedral de Siena, outra igreja inesquecível por causa de seu estilo único:

É verdade que São João foi o evangelista que escreveu sobre o Verbo (com maiúscula, ao contrário do que saiu no jornal), mas eu não achei nada que relacionasse diretamente a águia ao Verbo -- as referências sempre ligam a águia ao evangelista.

Por fim, segue, para quem se intereressa pelo assunto, uma fonte interessante (em inglês) sobre a iconografia relativa aos evangelistas.

PS1: a águia é o mascote do São José Esporte Clube, conhecido como a "Águia do Vale"

PS2: já estou com o texto da Veja sobre o guarda-roupa papal. Comento mais tarde.

sábado, 5 de julho de 2008

Sua vida em flash

Enquanto aguardo que alguma boa alma me envie a íntegra da matéria da Veja sobre o guarda-roupa do Papa, encontro na Veja Online uma cronologia da vida de Joseph Ratzinger.

Não está ruim, não. Menciona que a família de Ratzinger era anti-nazista, que o futuro Papa só participou da guerra porque foi convocado (e lembra que ele fugiu do front quando chamado pela terceira vez), mas dá um ou outro escorregão. Na linha da vida do Papa, o ano de 1984 vem acompanhado do título "Contra a Teologia", ponto. O texto se refere ao combate à Teologia da Libertação. Então, convenhamos, não deveria ser "Contra a Teologia da Libertação"? Afinal, o que Ratzinger fez foi trabalhar a favor da Teologia, expurgando interpretações que não passavam de sociologia gramscista disfarçada de teologia... fora o lance da "ex-Inquisição" (1981), que eu já comentei aqui em outras ocasiões.

O texto referente a 1993 é no mínimo intrigante. Menciona a nomeação de Ratznger como "bispo de Velletri-Segni" e depois "bispo de Ostia", como se ele estivesse acumulando funções. Na verdade, essas dioceses não são exatamente dioceses no sentido mais comum do termo. O que aconteceu é que Ratzinger se tornou um cardeal-bispo. Os cardeais se dividem em três classes: cardeais-bispos, cardeais-presbíteros e cardeais-diáconos. O nome não tem nada a ver com o grau do sacramento da Ordem. Os cardeais-bispos são bispos titulares (já expliquei isso em outra ocasião) das sete antigas sés suburbicárias de Roma. Velletri-Segni é uma delas. Ostia é outra, e o titular desta diocese é o decano do Colégio de Cardeais. Aliás, aqui a Veja escorrega. Ratzinger só se tornou bispo de Ostia em 2002, e não "cinco anos depois" de 1993.

Bom, quanto aos "erros da Igreja" (2000), eu estou quase desistindo de convencer os colegas. Por outro lado, a descrição do bafafá criado pelos muçulmanos por causa de um discurso do Papa foi muito bem feita, mostrando como o Papa foi mal interpretado.

Agora, e isso é uma dúvida mesmo, provocada pela linha "fatos marcantes" que está na parte de baixo da animação: houve reforma litúrgica em 1947? E, mesmo que tenha havido, a reforma realmente relevante foi a de 1969, ignorada na linha da Veja.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Parece que não aprenderam a lição deixada por Renato Gaúcho

O técnico do Fluminense cantou vitória antes da hora e se deu mal. Meu amigo Jorge Ferraz avisa, em seu blog (muito bom, por sinal), que o Jornal do Commercio, no Recife, dedicou um caderno especial de oito páginas ao arcebispo, dom José Cardoso Sobrinho. Para atacá-lo, obviamente:



Agora, os fatos: dom José completou 75 anos no dia 30 e, como manda o Direito Canônico, apresentou sua renúncia ao Papa. Mas Bento XVI pode não aceitá-la imediatamente, e nesse caso dom José continua à frente da arquidiocese até quando o Papa quiser. E existem alguns precedentes para bispos notadamente fiéis à doutrina católica. Dom Eugênio Sales continuou como arcebispo do Rio de Janeiro até os 80 anos. Dom Pedro Fedalto ficou à frente da Arquidiocese de Curitiba até quase os 78 anos de idade. E Joseph Ratzinger pediu, mas João Paulo II não aceitou a renúncia do prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. O cardeal só deixou o posto às vésperas de fazer 78 anos, e apenas porque o Papa morreu - e, como sabemos, Ratzinger nem assim conseguiu descanso...

Isso me lembra uma reportagem de capa da Veja em 1994, assinada pelo Mario Sabino, que dava a morte de João Paulo II como iminente. O Santo Padre ainda permaneceu conosco por 11 anos. Algo me diz que o Jornal do Commercio corre o mesmo risco.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Quero que você me aqueça neste inverno...

Dom Clemente Isnard, bispo emérito de Nova Friburgo (onde hoje está dom Rafael Llano Cifuentes - para vermos como as coisas melhoram), acaba de nos presentear com um livro que vai nos fazer muito bem aqui em Curitiba, onde faz um frio de cortar a alma e bom combustível de lareira é sempre bem-vindo.



Pois bem, como costuma acontecer, já começaram a fazer a farra na grande imprensa. Até semana passada, a palhaçada estava restrita ao Adital, uma agência de notícias socialista travestida de católica. Mas agora O Globo Online resolveu entrar na roda.

Bispo aposentado defende mudança na escolha de líderes, fim do celibato obrigatório, mais poder para mulheres e camisinha contra Aids

E lá vamos nós!

Em meio à campanha da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) contra a corrupção na política
Cleide Carvalho, Cleide Carvalho... CNBB é Conferência, e não Confederação.

Depois vem a entrevista. Sério: acredito que seja o pingue-pongue (é como chamamos esse formato de entrevista em que se coloca a pergunta e a resposta) mais mal-editado que já vi na vida. Quer dizer, acho que nem editado foi, a repórter deve ter dado um Ctrl-C Ctrl-V no e-mail e colou no publicador do O Globo Online. Custava ter juntado várias das frases do bispo sobre um mesmo tema, e colocar tudo dentro de uma única pergunta? É assim que se faz edição...

Aí a repórter faz umas perguntas do tipo

O GLOBO ONLINE- É verdade que São Pedro tinha sogra?
Cleide querida, se você tivesse olhado direito a Bíblia veria que lá diz, com todas as letras, que São Pedro tinha sogra. Não precisava ter feito essa pergunta ao bispo.

É verdade que, infelizmente, a maior parte das bobagens dessa entrevista vem do bispo, e não da repórter. Mas um conhecimento um pouco maior da doutrina católica, ou às vezes até mesmo um pouco de sagacidade, teriam servido para colocar dom Clemente na parede. Quer dizer, isso se a repórter não quis apenas servir de escada para o "bispo que desafia a Igreja Católica". Percebam que ele se esquiva em várias perguntas. Mas, em outras, ele abre a guarda e podia muito bem ter levado um direto.

Por exemplo, quando ele diz que "comentadores" não acreditam que seja infalível a declaração de João Paulo II na Ordinatio Sacerdotalis, segundo a qual mulheres não podem ser ordenadas. Custava perguntar "que comentadores são esses?"

Ou quando o bispo conta que, quando ele apitava em Nova Friburgo, deixava mulheres celebrarem batizados e casamentos. No caso do batismo, infelizmente a CNBB instituiu, lá na década de 70, um negócio chamado "ministro extraordinário do batismo". Mas, ainda assim, eles só deveriam agir em caso de ausência do ministro ordinário, que é o bispo, padre ou diácono. Agora, o cânon 1108 diz, sobre o matrimônio:

Somente são válidos os matrimônios contraídos perante o Ordinário local ou o pároco, ou um sacerdote ou diácono delegado por qualquer um dos dois como assistente (...)
Existe uma observação ao cânon 1112 (Onde faltam sacerdotes e diáconos, o Bispo diocesano, com o prévio voto favorável da conferência dos bispos e obtida a licença da Santa Sé, pode delegar leigos para assistirem aos matrimônios) que diz o seguinte:

A possível delegação a leigos está regulamentada pela Instrução da Sagrada Congregação dos Sacramentos, de 15 de maio de 1974 (...). É necessário que o Bispo diocesano obtenha as duas coisas: voto favorável da Conferência Episcopal e licença expressa da Santa Sé. Os leigos designados (sempre por um prazo fixo) têm um papel supletório, quer dizer, só atual licitamente quando falta um ministro ordenado. Seria uma deturpação da finalidade dessa concessão confiar normalmente a celebração do matrimônio a esses leigos. Além disso, corre-se o perigo de diminuir o senso do caráter sagrado do matrimônio.
Basta ler a entrevista de dom Clemente para saber que não é esse o caso. Não faltavam ministros ordenados, mas mesmo assim a freirinha ia lá, porque os casais preferiam que fosse ela. Sorte desses casais que seu matrimônio, embora ilícito, ainda seja válido. Mas a repórter, se tivesse um pouco de senso crítico, poderia ter achado estrando esse negócio da freira celebrar casamento e correr atrás de base legal para isso, não poderia?

Enfim, sei que ler essa entrevista de cabo a rabo significa perder uns 10 minutos da sua vida que jamais voltarão. Para comentá-la no blog devo ter perdido o dobro ou o triplo disso, infelizmente. Mas aqui podemos ver o que a infidelidade de um bispo e a incompetência (ou cumplicidade) de um repórter podem fazer...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A volta dos cátaros

Já houve um punhadinho de heresias ao longo dos séculos que pregavam uma Igreja apenas para os puros. O pecador aí não tinha lugar. Claro, seria um fracasso de público estonteante, pois provavelmente só a Virgem Maria (e, acho, São João Batista) teria lugar ali.

Cátaros sendo expulsos de Carcassone

Mas vejam só, a Veja Online acha que o Papa quer relançar a campanha para que só os puros tenham acesso pleno à Igreja:

Papa diz que só 'puros' devem receber a comunhão
Vejam um trechinho da reportagem:

Segundo ele, somente os "puros" e os que não estejam manchados pelo pecado podem receber a comunhão.
Pois bem, a notícia é do dia 23 - só estou comentando agora porque demorou um pouco para o Vaticano colocar a homilia na internet. Ela foi pronunciada via satélite, no encerramento do Congresso Eucarístico Internacional em Quebec, no Canadá (aliás, uma cidade muito simpática, recomendo a visita).

Acontece que o Papa não disse isso. O que ele disse é diferente:

This is why we must do everything in our power to receive him with a pure heart
(o Vaticano ainda não tem a homilia em português)

Ou seja, que nós devemos nos esforçar o máximo para receber a Eucaristia "com um coração puro". O pecado que nos impede de comungar é apenas o pecado grave, ou mortal. O pecado venial, como o Papa diz, realmente atrapalha a ação da Graça em nós, mas não é um impedimento para a comunhão.

O problema é alguém ler o texto da Veja Online e passar a ter crises de escrúpulos...

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Como diria o Huck: qué, qué, qué, qué, quééééééééééé...

Uma vez me contaram que a Arquidiocese do Rio não deixa a Globo gravar novela dentro de suas igrejas. Se for verdade, é muito bem feito, porque afinal as novelas globais têm criado um padrão de comportamento lastimável na população brasileira.

Pois bem, o Ron Howard queria gravar dentro de igrejas romanas cenas do próximo filme baseado em livros do Dan Brown. Claro, ele acha que O Código Da Vinci não foi agressão suficiente. Só que levou um não na cara:

Vaticano impede filmagem de "Anjos e Demônios"


Só que, como é um texto da EFE, sempre tem de haver alguma imprecisão.
O Vicariato de Roma negou as permissões para que o diretor americano Ron Howard grave nas igrejas de Roma cenas do filme "Anjos e Demônios", adaptação do livro de mesmo título de Dan Brown que tem como protagonista o ator Tom Hanks.
Pois é: Vicariato de Roma é uma coisa; Vaticano é outra. A decisão foi interna, da diocese. Se bem que o bispo de Roma deve ter achado é muito bom...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Tem gente que acha um jeito de colocar a Igreja em tudo

Assim como o Orlando Fedeli, que vê em tudo um pretexto para criticar o Concílio Vaticano II, o El País parece usar de todas as oportunidades para jogar uns dardinhos na Igreja.

Pois bem, em um texto* sobre um bafafá que deu na França laicista e anti-religiosa sobre um divórcio civil concedido porque a noiva enganou o noivo (ambos muçulmanos) sobre sua virgindade, o repórter ainda me saiu com essa no fim:
Para o judaísmo as relações íntimas antes do casamento estão proibidas pela halakha (lei judaica) porque o sexo não pode ter outro objetivo além da procriação. O catolicismo não é mais aberto e critica inclusive a "castidade conjugal". O islamismo também exige a "pureza" mas admite o arrependimento quanto aos "deslizes" anteriores ao casamento, se houver a intenção de uma reparação. O integrismo força a interpretação das coisas.
Peraí. "Critica a castidade conjugal"? Engraçado que o repórter não explicou o que seria a "castidade conjugal", e nem quando foi feita a sua "crítica". Eu imagino que seja porque o repórter não faz a menor idéia do que está falando -- afinal, lembrem-se, ele é do El País.

Aí eu me lembro de quando o Papa esteve aqui e falou, acho que no Pacaembu, da castidade "dentro do casamento" -- incentivando, não criticando -- e todo mundo entendeu errado. Quer dizer, todo mundo menos os católicos de verdade, que entenderam exatamente o que o Papa queria dizer...

* Não deixei o link porque parece que está restrito a assinantes do UOL. Eu recebi essa pérola por e-mail.

terça-feira, 17 de junho de 2008

A culpa sempre é do Concílio Vaticano II

Ícone da Comunhão dos Apóstolos, igreja de São Nicolau, em Curtea de Arges (Romênia), c. 1350. Antes que alguém pergunte "viu? Jesus não colocava a hóstia na boca deles", eu respondo que, como bispos, os Apóstolos podiam, sim, pegar o Santíssimo Sacramento com as mãos.

Saiu no Diário de Natal, que por sua vez cita o Correio Braziliense:
Bento XVI restaura a comunhão de joelhos

Diante de 70 mil pessoas, o papa Bento XVI fez história domingo durante a celebração de uma missa em Brindisi, cidade situada na região sudoeste da Itália. No momento da comunhão, o pontífice restaurou o costume de entregar a hóstia consagrada aos fiéis ajoelhados. Apenas os diáconos puderam comungar de pé, diante do líder da Igreja. O gesto, de forte apelo simbólico, resgatou uma tradição abandonada havia 43 anos, quando a reforma litúrgica definida pelo Concílio Vaticano II determinou que os peregrinos receberiam a hóstia de pé e nas mãos. A partir de agora, todos os católicos escolhidos pela Santa Sé para a comunhão com o papa terão de se ajoelhar diante de um reclinatório e receber a eucaristia diretamente na boca.

Bento XVI já havia feito o mesmo na missa de 22 de maio, celebrada na Igreja de São João Latrão, em Roma. Como o número de fiéis presentes era menor, a atitude teve pouca ou quase nenhuma repercussão. "Nós, os cristãos, nos ajoelhamos diante do Santíssimo Sacramento (a hóstia) porque, nele, sabemos e acreditamos estar na presença do único e verdadeiro Deus", afirmou o papa, naquela ocasião. "Estou convencido da urgência de dar novamente a hóstia diretamente na boca aos fiéis, sem que a toquem, e de voltar à genuflexão no momento da comunhão como sinal de respeito", acrescentou.

A assessoria de imprensa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) afirmou ao Correio que ainda não recebeu qualquer comunicado do Vaticano sobre a inclusão dos 125 milhões de brasileiros católicos na mudança litúrgica. "Resta saber se essa é uma norma ou uma orientação do Santo Padre", declarou a entidade. Ainda que a determinação valha apenas para fiéis que comungarem diretamente das mãos do pontífice, ela reforça a tendência de Bento XVI em recuperar partes mais tradicionalistas do ritual, que caíram em desuso com o tempo.

Em três anos de pontificado, o papa manteve-se fiel ao antigo cargo de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: condenou o casamento homossexual e o aborto e exigiu que as pesquisas genéticas respeitem a vida. Mas a medida mais surpreendente até então foi o relançamento da missa em latim, com base no rito tridentino (em que o sacerdote fica de costas para os fiéis e faz a celebração no idioma milenar). Em vigor desde 14 de setembro, a norma foi bem recebida pela área mais conservadora da Igreja Católica. (Correio Braziliense)
Primeiro, que o Papa não restaurou coisa nenhuma. Até onde eu me lembro, e eu vi muuuuitas missas papais pela televisão, as pessoas também se ajoelhavam pra receber a comunhão das mãos de João Paulo II.

Segundo, que o Concílio Vaticano II não tem absolutamente nada a ver com comunhão nas mãos ou na boca, em pé ou de joelhos. Aquele pequeno trecho da reportagem concentra inúmeros erros:
  • absolutamente nenhum texto conciliar determina a comunhão em pé ou na mão;
  • o concílio terminou em 1965, e a reforma litúrgica é de 1969;
  • mesmo segundo o missal de Paulo VI, o modo padrão de receber a comunhão é na boca; só se pode dar a comunhão na mão em locais onde o Vaticano permitiu, depois de um pedido formal da conferência episcopal local.

    Ah, claro, o nome daquele negócio onde se ajoelha é genuflexório.

    E consultar a CNBB sobre o assunto pode parecer meio superficial (como quando o Jornal de Santa Catarina perguntou ao arcebispo de Florianópolis se ele podia fazer alguma coisa em relação à revolta de paroquianos na Vila Nova, diocese de Blumenau), mas revelou que até os bispos estão confusos. A comunhão de joelhos já é uma norma. Só que, no Brasil, existe a permissão para se comungar em pé.

    Por fim, sempre a confusão entre "missa em latim" e "missa tridentina". Eu acho que vou desistir de tentar convencer meus colegas que de no rito tridentino o padre celebra "de frente para Deus", e não "de costas para o povo". Por incrível que pareça, o redator da matéria acertou o mais difícil: a data em que a Summorum Pontificum entrou em vigor.

    Qual é realmente a novidade da matéria? A defesa explícita que o Papa fez da comunhão de joelhos e na boca. Isso sim deveria ter sido realçado, pois o fato de as pessoas receberem a comunhão do Papa ajoelhadas já chega a ser corriqueiro nas celebrações papais (e a própria matéria ressalta que o acontecimento de Brindisi não foi o primeiro).
  • quarta-feira, 11 de junho de 2008

    Mas até o jornal da diocese??

    Fiquei pensando um tempo sobre como eu começaria esse post. E então me veio uma analogia.

    Resumindo o assunto, digamos que a diocese de Blumenau está para os abusos litúrgicos como o PT está para a mentira, a corrupção e a ladroagem. Deus que me perdoe por isso, mas às vezes a coisa é tão absurda que eu acabo me distraindo do Santo Sacrifício, como naquela vez em que, depois da consagração, o padre substituiu o restante da Oração Eucarística por uma música de uma dupla sertaneja que estava lançando seu CD.

    Mas, bem, o assunto aqui é jornalismo. E a diocese de Blumenau tem um jornalzinho. Antes não tivesse, porque aí eu não teria o desgosto de ler tanta coisa ecumaníaca e notinhas como essa:


    Galileu no Vaticano

    Galileu Galilei, físico italiano condenado pela Santa Inquisição da Igreja Católica em 1633 por defender idéias heliocêntricas, e totalmente reabilitado no pontificado de João Paulo II, ganhará, em 2009, uma estátua nos jardins do Vaticano. A estátua, retratando o próprio Galileu, será colocada próxima à Casa de Pio IV, no alto da colina que aponta para a cúpula da Basílica de São Pedro. O projeto nasceu de uma idéia dos membros da Pontifícia Academia de Ciências para homenagear o físico italiano, no ano internacional da Astronomia, proclamado pela ONU para comemorar a primeira utilização de um telescópio por parte do mesmo Galileu. O físico descobriu que a Terra não era imóvel, mas mantinha um movimento de rotação. Com suas descobertas, Galileu contradisse dogmas sustentados pelos cientistas e pela Igreja de então. Condenado como herege, foi obrigado a negar suas teorias em 1633. Ao contrário de Giordano Bruno (1548-1600), queimado pela Inquisição 33 anos antes, por sustentar idéias semelhantes, Galileu sobreviveu.
    Convenhamos, o índice de erros por centímetro de coluna na notinha é alarmante.

  • O geocentrismo nunca foi dogma católico; Galileu questionou, sim, dogmas católicos, mas de outra ordem;

  • Galileu não "sobreviveu" -- o fato é que sua vida nunca esteve em risco. A escolha do verbo pelo redator dá a entender que a Inquisição era uma máquina assassina, e que cair em suas "garras" e não ser queimado seria um feito espetacular, tipo fugir de Alcatraz;

  • E, obviamente, a condenação de Galileu não teve nada a ver com heliocentrismo.

    Conclusão: se tanta asneira tivesse sido escrita pelo André Petry na Veja, eu não me surpreenderia (mas apareceria no blog do mesmo jeito). Mas em um jornal de diocese?

    Em tempo: eu já havia falado do processo de Galileu aqui.
  • quinta-feira, 29 de maio de 2008

    Quando crescer quero ser como ele

    Na manhã de hoje, Reinaldo Azevedo também escreve em seu blog sobre a demonização da Igreja Católica feita pela imprensa quando insiste em lembrar que Carlos Alberto Direito é "católico fervoroso". O texto vale muito a pena - já a maioria dos comentários parece ser feita por gente que simplesmente não leu o que o Reinaldo escreveu (ou, se leu, não entendeu).

    quarta-feira, 28 de maio de 2008

    E não é que ele existe mesmo?

    Os cassetas sempre fazem algum trocadilho com os nomes dos jornalistas da Globo, e é assim que Alexandre Garcia virou Alexandre Gracinha, interpretado pelo Beto Silva (infelizmente não achei fotos). Antes fosse só piada: Alexandre Gracinha existe de verdade e apareceu hoje cedo, no Bom Dia Brasil, falando ao vivo de Brasília sobre o julgamento das células-tronco embrionárias no STF (que ainda está rolando, até onde eu sei).

    Primeiro ele começou lembrando que tanto o ministro Carlos Direito quanto o ex-procurador-geral Cláudio Fonteles são "católicos fervorosos". Raios, o que isso tem a ver com a história? Por que só eles aparecem na imprensa com esse aposto? Por que não procuram saber a religião dos outros ministros, ou da Mayana Zatz? Por exemplo, o ministro Ayres Britto, aquele que redigiu um voto antalógico, é seguidor de um tal Osho, mas se depender do Alexandre Gracinha, e de todo o resto da imprensa, ninguém ficaria sabendo. "Ah, mas no voto dele não tem citações do Osho, então a religião do Ayres é irrelevante", alguém pode dizer. Então tá: na Adin do Fonteles e na argumentação do Carlos Direito também não há citações de encíclicas papais - é só fundamento jurídico e científico. São textos que poderiam ter sido escritos por um protestante, um judeu, um budista, um ateu... mesmo assim, 110% das menções ao ministro e ao ex-procurador-geral vêm com o "católico fervoroso" quase como se fosse um sobrenome.

    Aí a apresentadora pergunta o que acontece com os embriões se o Supremo der razão ao Fonteles. Então o Gracinha responde que vão pro lixo, ponto. Não que "poderiam" ir pro lixo: eles vão. E, indo pro lixo, acabariam com a esperança de tantas pessoas que esperam a cura para seus problemas (isso apesar de as células embrionárias até hoje não terem mostrado resultado nenhum) - e o Gracinha arremata com sua tentativa de teologia, lembrando que a esperança é uma das virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade, caridade que precisaria ser exercida para com os portadores de doenças "curáveis" com o uso de embriões.

    Decerto o Gracinha deve ter terminado a entrada ao vivo pensando "nossa, arrasei com esse negócio das virtudes". É, arrasou com o bom senso. Vamos rapidinho ao Compêndio do Catecismo da Igreja Católica para comprovar que a virtude teologal da esperança é algo muito diferente de esperar que, matando embriões, se consiga a cura para Parkinson, Alzheimer ou que se faça um paraplégico voltar a andar.

    387. O que é a esperança?

    1817-1821;
    1843

    A esperança é a virtude teologal por meio da qual desejamos e esperamos de Deus a vida eterna como nossa felicidade, colocando a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos na ajuda da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar até ao fim da vida terrena.
    (ah, sim, aproveite para verificar que "caridade" também não tem nada a ver com destroçar seres humanos para pesquisas que até agora não deram em nada)

    Conclusão: na época em que os repórteres apenas não sabiam o que era um cardeal, mas ainda não se metiam a dar uma de teólogos, eu era feliz e não sabia.

    domingo, 18 de maio de 2008

    Meus colegas andam muito preguiçosos

    Está rodando por aí a notícia de que a Justiça baiana mandou recolher livros do monsenhor Jonas Abib. Quem me conhece sabe que não morro de amores pela RCC, especialmente pelos abusos litúrgicos e pela "ordinarização do extraordinário", mas o assunto não é esse. Essa matéria do Terra segue a mesma linha de tudo o mais que eu já li sobre o assunto:

    Justiça da Bahia manda recolher livro de padre

    A acusação:

    O promotor Almiro Sena alegou que Abib faz "afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto".
    E a matéria fica por aí. Será que nenhum repórter teve a capacidade de conseguir um exemplar do livro para verificar se as afirmações do promotor têm procedência? Só porque o promotor falou, é isso mesmo? Como é que temos na imprensa trechos completos da tal carta do Einstein leiloada recentemente, mas não temos uma linha sequer do livro censurado? Com a resposta, os repórteres.

    quarta-feira, 14 de maio de 2008

    O povo do El País precisa se decidir

    Tá aí um filme realmente bom!

    No domingo o El País resolveu publicar um perfil de um padre exorcista espanhol. A matéria está muito bem escrita, inclusive.

    Mas, como era de se esperar do El País, os jornalistas de lá continuam sem fazer a menor idéia das coisas que o Papa diz ou deixa de dizer:

    Pese a sus relaciones con los demonios, Fortea coincide con el Papa en que el infierno, como lugar concreto, no existe.
    Vamos ver com cuidado. Então, diz o El País que, segundo Bento XVI, o inferno, como lugar concreto, não existe. Mas em fevereiro desse ano o mesmíssmo El País publicou o seguinte:

    El papa Benedicto XVI ha asegurado que el infierno existe y no está vacío. No es anuncio nuevo, en 2007 ya mencionó la existencia del infierno como lugar, algo que su antedecesor, Juan Pablo II, había rechazado.
    Lembram disso? Eu comentei essas matérias à exaustão em fevereiro, consultem o arquivo do blog. Inclusive demonstrei que não existe contradição nenhuma entre as palavras de Bento XVI e de João Paulo II.

    Mas, para o El País, em fevereiro Bento XVI diz que o inferno é um lugar; em maio, Bento XVI não acredita no inferno como um lugar. O que eu acho é que são os jornalistas espanhóis que não sabem do que estão falando. Vai ver estão com o diabo no corpo.

    O L'Osservatore precisa parar de publicar entrevistas



    Lembram do monsenhor Girotti, "vice" da Penitenciaria Apostólica? Ele deu uma entrevista despretensiosa para o L'Osservatore Romano e logo depois o mundo estava perplexo com a "lista dos novos pecados capitais" - cortesia da BBC.

    Pois é. Agora quem deu entrevista ao jornal vaticano foi o padre José Gabriel Funes, diretor do observatório astronômico do Vaticano. E aí a BBC Brasil, sempre ela, me lasca o seguinte título em sua matéria:

    Vaticano admite que pode haver vida fora da Terra
    Como se percebe, a BBC tem o vício de atribuir à Igreja Católica qualquer declaração de alguém que esteja dentro dos muros (ou em Castelgandolfo, onde fica o observatório). Sejamos honestos: o Vaticano não admitiu nada. O padre Funes não fala em nome da Santa Sé, e sim como astrônomo e estudioso. Só isso.

    O Terra não quis ficar atrás:

    É possível crer em Deus e extraterrestres, diz padre
    O problema desse título é que não se "crê" em Deus da mesma forma como se "crê" em ETs. A existência de ETs é um dado cientificamente comprovável, ao contrário da existência de Deus, que, embora possa ser captada pela razão, não pode ser provada em laboratório.

    Além disso, o Terra lasca um

    Jesus reencarnou uma vez para todos. A reencarnação é um evento único e não pode ser repetido
    que só pode ser erro de tradução, pois é uma frase incoerente em si mesma. Se é um evento único que não se repete, é a encarnação, e não a reencarnação. Além disso, católicos não acreditam em reencarnação.

    O Terra diz ter pego as informações da Ansa, então lá fui eu atrás da agência italiana, e descubro que eles conseguiram fazer pior que os brasileiros!

    Vatican: 'God made aliens too'

    Quer dizer, deixou de ser possibilidade para ser certeza!

    (ANSA) - Vatican City, May 13 - God made not only Man but also any other intelligent life in the Universe, the Vatican's top astronomer said Tuesday.

    "Just as there is a multiplicity of creatures on Earth there could be other beings, intelligent ones, created by God," Father José Gabriel Funes told Vatican daily L'Osservatore Romano.
    Vejam que, na hora das aspas do padre, fala-se de possibilidade. Mas no primeiro parágrafo o tempo verbal empregado já dá a idéia de certeza... então rezemos pela alma dos ETs, sejam os de filme, o de Varginha, o chupa-cabra e todos os outros!

    sexta-feira, 9 de maio de 2008

    Tem horas em que é bom não ter televisão por assinatura

    Domingo que vem o Discovery Channel vai apresentar um programa chamado Continente da Esperança. Não entendi direito se é uma série, ou se é apenas um único programa.

    Mas só de ler a sinopse eu acho que vou ganhar mais vendo Fantástico, ou qualquer mesa redonda analisando a primeira rodada do Brasileirão da Série B (que é o que interessa). O Discovery quer descobrir por que o número de católicos diminui e por que faltam padres. Garanto que sobre isso eles terão entrevistado o Fernando Altemeyer, a Ivone Gebara, o Leonardo Boff, o frei Betto, o Marcelo Barros, um monte de CEBeiros... não conto muito com a hipótese de ver no programa gente do porte de dom Eugênio Sales, dom José Cardoso Sobrinho...
    E provavelmente vão apontar como causas do declínio de católicos a rigidez moral da Igreja, o centralismo de Roma, a liturgia engessada no modelo europeu (que não permite a tal "inculturação"), essas coisas. Quando as verdadeiras causas (a Teologia da Libertação, a perda de significado do sacerdócio, o relativismo moral), essas vão passar batidas pelos repórteres do Discovery.

    O fim do texto que apresenta o programa no site é de matar:

    A situação é tão preocupante que cerca de 70% das missas dominicais no País são celebradas sem padres.
    Só para deixar bem claro: a estatística está completamente errada porque sem padre, não existe missa! Lembram daquela matéria da Globo sobre a assembléia da CNBB, que começava com um leigo de jaleco fazendo celebração da palavra e depois um fiel dizendo que "é a mesma coisa, o que importa é o coração"? Pois bem, que um fiel com formação deficiente diga isso é uma coisa; que um repórter que deveria entender do assunto que cobre diga isso é outra coisa, bem pior.

    terça-feira, 6 de maio de 2008

    O que deu na Ilze Scamparini?

    Domingo, no Fantástico, lá foi ela à Áustria visitar a cidade onde o Josef Fritzl trancava a filha (para ficar na parte light da coisa). Em um dado momento, ela se refere à Áustria como "país católico". De fato, parece que realmente a maioria da população austríaca é católica. Mas a referência, naquele contexto, ficou esquisita. Como se atrocidades como aquelas não ocorressem em países não católicos.

    Só faltava ela dizer que o sujeito tinha o mesmo primeiro nome do Papa...

    domingo, 4 de maio de 2008

    O santo guerreiro

    Saiu hoje no G1:

    Santo padroeiro do Corinthians também foi "rebaixado", mas não perdeu santidade


    São Jorge segundo Rafael Sanzio

    Brincadeiras à parte com meu time, vamos ver o texto com atenção. Uma das primeiras coisas que o repórter esclarece é que não existe "dessantificação".

    Mas depois, como é de costume, colocam nas costas do Vaticano II todo tipo de coisa:


    A situação mudou consideravelmente após o Concílio Vaticano Segundo (1962-1965), reunião que deu novos rumos à Igreja no século 20. Os líderes católicos decidiram dar mais peso à Bíblia e à figura de Cristo nas missas e demais celebrações religiosas, diminuindo a ênfase nas festas relacionadas a santos. Apenas as mais importantes, como as que envolvem São Pedro e São Paulo, considerados os principais líderes do cristianismo primitivo, continuaram a ser celebradas pela Igreja no mundo inteiro.
    Primeiro, que na Missa a ênfase sempre esteve na Bíblia e em Cristo. Segundo que ainda existe um grande bocado de festas consideradas obrigatórias pela Igreja em todo o mundo. Se fossem só as dos Apóstolos e de mais um ou outro santo, sobraria muito pouco. Mas basta pegar o Diretório Litúrgico da CNBB para ver o bocado de memórias obrigatórias que ainda estão lá.

    E o padre Oscar Beozzo também comete seu escorregão:


    Outros santos tiveram o mesmo destino, como Santa Filomena, que começou a ser venerada a partir de 1808 com a descoberta de seu nome numa das catacumbas. "Mas, nesse caso, ela nem tinha chegado a ter um dia oficial de festas", diz o historiador da Unicap. "Quem era devoto de Santa Filomena realmente ficou meio perdido", diz o padre Beozzo.
    Segundo a Enciclopédia Católica, Gregório XVI (Papa de 1830 a 1846) instituiu sim a festa de Santa Filomena, em 9 de setembro. E seu túmulo foi descoberto em 1802, não em 1808.

    Convenhamos, podia ter sido muito pior. Podiam dizer, como já vi por aí, que a Igreja teria deixado de reconhecer São Jorge como santo. O resultado final até que é bom. Agora, descobri que o G1 tem uma série de reportagens chamadas "Ciência da Fé". Vou ler mais e depois conto aqui o que descobri.

    sexta-feira, 2 de maio de 2008

    Milagre!

    Vi ontem as reportagens do Jornal da Band e do Jornal Nacional sobre a tal pesquisa da UnB e Uerj sobre o perfil das mulheres que abortam. Achei estranho isso ter aparecido na televisão só ontem, pois no jornal eu me lembro de ter visto algo sobre o assunto na semana retrasada.

    De qualquer maneira, achei incrível o fato de nenhuma das duas matérias ter entrevistado alguém das Diabas pelo Direito de Matar para dar o seu pitaco. O mundo ainda tem salvação!

    E vá lá, as reportagens deixaram de fazer uma distinção importante entre ser católico e se dizer católico - sabemos que, ultimamente, existe um abismo enorme entre essas duas coisas.

    Por fim, vejam vocês, não é que as adolescentes são mais responsáveis que mulheres de 20 a 29 anos mães de família?