quinta-feira, 23 de abril de 2009

Desde quando TL é beato?

Não vou comentar o caso de Fernando Lugo. Só vou apontar umas aberrações que vi na, adivinhem? Folha de S.Paulo, edição online.

Ontem:
Ex-beata acusa presidente paraguaio de ser pai de criança

Hoje:
Presidente paraguaio tem seis filhos bastardos, diz ex-beata

A única coisa que a reportagem informa sobre Damiana Morán é que ela é "ex-coordenadora da Pastoral Social da Diocese de San Lorenzo" e agora é "diretora de uma creche". E só. Então, de onde tiraram esse "ex-beata"? Ela abandonou a Igreja, para ser "ex"? Era conhecida pela frequência das práticas piedosas, para ser "beata"? Ou será que não sabiam que termo usar para se referir à "mãe do filho do bispo" e, num momento de insanidade, resolveram que "ex-beata" servia?

sexta-feira, 17 de abril de 2009

terça-feira, 14 de abril de 2009

Depois de enforcarem, ainda reencarnam Jesus!

Essa é cortesia da Maria Alice. Cliquem aqui e vejam essa legenda impressionante:

Atores encenam a reecarnação de Jesus Cristo no monte El Calvario, em Tandil, Argentina
Vejam antes que alguém lá perceba e faça a correção!

Como recordar é viver, talvez o mais célebre "Erramos" já publicado, pelo principal concorrente do Estadão:

"Diferentemente do que foi publicado no texto 'Artistas 'periféricos' passam despercebidos', à pág. 5-3 da edição de ontem da Ilustrada, Jesus não foi enforcado, mas crucificado, e a frase 'No princípio era o Verbo' está no Novo, não no Velho Testamento." (7/12/94)

sábado, 11 de abril de 2009

Peça de propaganda travestida de reportagem

A IstoÉ dessa semana chegou à casa de meus pais, onde estou passando a Páscoa, e traz uma reportagem sobre ordenação de mulheres:

Elas querem o sacerdócio

Basta passar os olhos pela matéria para ver que isso não é jornalismo; é propaganda pura. Eu pessoalmente acho que esse papo de "isenção" em muitos casos serve como muleta de jornalista preguiçoso e não me oponho a que um veículo de comunicação defenda certas ideias (como a IstoÉ defende neste caso) - mas nunca deve fazê-lo omitindo ou distorcendo informação.

Vejam que há uma falta de balanço gritante entre defensores e opositores da "ordenação feminina" (com direito a participação de dom Clemente Isnard, um que, se não tiver seu arrependimento final, tem passagem reservada para o círculo mais central do inferno dantesco, o dos traidores), e o único sujeito decente na matéria, o padre Juarez, ainda teve selecionada uma frase bem insossa. Certamente ele falou muito mais que isso, usou argumentos muito melhores, mas a revista seleciona uma frase inofensiva para não dar munição à tese contrária.

No entanto, uma das piores coisas da matéria é ignorar completamente a existência do documento Ordinatio Sacerdotalis, de 1994, onde João Paulo II fecha a questão definitivamente ao declarar:

Portanto, para que seja excluída qualquer dúvida em assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32), declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como definitiva por todos os fiéis da Igreja.
E a verdade é que qualquer reportagem sobre ordenação de mulheres na Igreja Católica que omita a existência deste documento está irremediavelmente falha.

Ainda assim, há outras falhas.

O direito de as mulheres exercerem o sacerdócio é um dos maiores e mais antigos tabus do catolicismo.
Hmmm, não, não é. Essa é uma discussão muito recente, e basta ver que praticamente nenhuma igreja ou comunidade eclesial cristã "ordenava" mulheres até há pouquíssimo tempo. A repórter, obviamente, não traz nenhuma prova de que essa discussão existisse antes do século XX, mas não tem vergonha de falar em "um dos mais antigos tabus do catolicismo".

Exceto a Igreja Católica, a maioria das religiões cristãs – que não têm uma autoridade centralizada – já supera a questão do gênero no sacerdócio.
Que eu saiba, a Igreja Católica não é a única a admitir apenas homens no clero. Os ortodoxos também agem assim, e até outras religiões não-cristãs. Por que a revista não vai encher o saco dos muçulmanos, por exemplo, que também não admitem mulheres entre as autoridades religiosas? Além disso, ainda que todas as outras religiões, igrejas, igrejolas e assemelhados do mundo admitissem mulheres no clero, isso não significa absolutamente nada...

Segundo levantamento do grupo Women Priests (Mulheres Sacerdotisas), oito em cada dez teólogos no mundo apoiam a ordenação de mulheres.
Taí uma pesquisa que eu gostaria de ver direito...

Os partidários da renovação católica acreditam que a ordenação de mulheres poderia ser uma solução para um dos maiores problemas da Igreja na atualidade – a crise de vocação. Segundo o anuário pontifício de 2009, a Instituição Católica conta com cinco mil bispos, 408 mil padres e 36 mil diáconos em todo o mundo. Em contraste, o número de religiosas chega a 810 mil.
Olha a falácia. OK, são duas vezes mais freiras que padres no mundo. Mas por acaso quantas dessas 810 mil religiosas gostariam de ser ordenadas? E se for uma pequena (embora barulhenta) minoria? Não resolveria o problema de forma alguma...

Ainda ganhamos, como brinde, um box chamado "As mulheres de Jesus", que diz

Marta o acompanhou durante a crucificação, enquanto muitos dos seus seguidores homens o abandonaram.
Hã? Marta, irmã de Maria e de Lázaro? Tipo, sejamos diretos: de onde a repórter tirou isso? Ela até podia estar lá mesmo, mas nenhum evangelho a menciona nominalmente. Além de propaganda, a IstoÉ agora está investindo em adivinhação?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Precisa-se de relógio e de calendário

Comentei faz algumas horas com o Alexandre Zabot que só existe um nome para essa enxurrada de matérias esquisitas que antecedem os grandes dias do catolicismo: é oportunismo puro. Chega a Páscoa, e começam as matérias sobre evangelhos de Judas, que Jesus não foi isso, que não fez aquilo. Perto do Natal ou do dia de Nossa Senhora Aparecida, é Maria isso, Maria aquilo. Pois bem, agora tem um "especialista" falando coisas para a EFE (cuja reputação já é bem conhecida dos leitores do blog).

Pesquisador levanta dúvidas sobre idade de Jesus ao morrer

Sinceramente, eu acho que a questão das datas é o de menos, se foi em 33, em 39... sabemos que existe muita imprecisão nessas contagens.

Mas aí vem o tal especialista Antonio Piñero (aliás, que nomezinho pretensioso o do livro dele, não?) e me diz o seguinte:
"É minha opinião, mas acho que é mais provável que Jesus tenha sido crucificado na quinta-feira, pela simples razão de que, se foi crucificado às 15h de sexta-feira, teria morrido caída a tarde. Isso, para os judeus é o novo dia, ou seja, sábado (Shabat), dia de descanso", argumenta Piñero. "A crucificação em dia de descanso teria sido uma profanação monumental. É mais possível que não tenha sido crucificado na sexta-feira, mas na quinta-feira."
Bom, aí basta ler os Evangelhos, né?

São Mateus, 27:

45. Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas.
46. Próximo da hora nona, Jesus exclamou em voz forte: Eli, Eli, lammá sabactáni? - o que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
47. A estas palavras, alguns dos que lá estavam diziam: Ele chama por Elias.
48. Imediatamente um deles tomou uma esponja, embebeu-a em vinagre e apresentou-lha na ponta de uma vara para que bebesse.
49. Os outros diziam: Deixa! Vejamos se Elias virá socorrê-lo.
50. Jesus de novo lançou um grande brado, e entregou a alma.
São Marcos, 15:

25. Era a hora terceira quando o crucificaram.
33. Desde a hora sexta até a hora nona, houve trevas por toda a terra.
34. E à hora nona Jesus bradou em alta voz: Elói, Elói, lammá sabactáni?, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?
35. Ouvindo isto, alguns dos circunstantes diziam: Ele chama por Elias!
36. Um deles correu e ensopou uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de uma vara, deu-lho para beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo.
37. Jesus deu um grande brado e expirou.
São Lucas, 23

44. Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona.
45. Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio.
46. Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou.
Apenas São João não dá uma referência de hora para a morte de Cristo, mas pelos outros evangelhos fica claro como água que 15 horas (a hora nona) não é o momento em que Jesus foi crucificado, mas o momento em que ele morreu.

Mas São João, no capítulo 19, dá outra informação:


31. Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados.
E tem São Lucas, 23 de novo:


50. Havia um homem, por nome José, membro do conselho, homem reto e justo.
51. Ele não havia concordado com a decisão dos outros nem com os atos deles. Originário de Arimatéia, cidade da Judéia, esperava ele o Reino de Deus.
52. Foi ter com Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus.
53. Ele o desceu da cruz, envolveu-o num pano de linho e colocou-o num sepulcro, escavado na rocha, onde ainda ninguém havia sido depositado.
54. Era o dia da Preparação e já ia principiar o sábado.
Ou seja, se quando Jesus foi deposto da cruz e sepultado já ia começar o sábado (para os judeus, a virada do dia é no pôr-do-sol), fica óbvio que Cristo foi crucificado numa sexta-feira.

Alguém, por favor, arrume um relógio e um calendário para o sr. Piñero...