terça-feira, 7 de outubro de 2008

Aberta a temporada de caça a Paulo VI

A Humanae Vitae, talvez uma das mais famosas e menos compreendidas encíclicas da história da Igreja, fez 40 anos em 25 de julho.

Paulo VI recebe a tiara. Foi o último Papa a ser coroado, o que eu acho uma pena.

Engraçado que demorou para começarem a sair as bobagens sobre ela, mas no sábado o El País (é como o Chaves: tinha que ser) deu sua contribuição ao arsenal. Parece que estava só para assinantes no UOL, então coloco o texto todo aqui.

Papa insiste na proibição de anticoncepcionais para os católicos
Miguel Mora
Em Roma (Itália)

"Os anticoncepcionais que impedem a procriação desvirtuam o sentido último do casamento" - foi o que lembrou ontem o papa Bento 16 em uma mensagem enviada a um congresso sobre o 40º aniversário da Humanae Vitae, encíclica em que Paulo 6º proibiu o uso da pílula para os católicos.
Hm, os anticoncepcionais já estavam proibidos. Basta consultar o Denzinger para ver que a antiga Congregação do Santo Ofício recebia várias perguntas de bispos sobre contracepção e sempre dizia que ela era ilícita. A encíclica colocou o ponto final na questão.
Com pouco sucesso, porque, como assume Bento 16, "o mundo e também muitos fiéis têm dificuldades" para compreender a mensagem da Igreja, "que ilustra e defende a beleza do amor conjugal em sua manifestação natural". Esse amor entre os esposos, explicou o papa, tem um modo próprio de se comunicar: "gerar filhos". E "excluir essa dimensão comunicativa mediante uma ação que tente impedir a procriação significa negar (...) a verdade íntima desse amor".

Bento 16 admite, porém, que no "caminho do casal podem ocorrer circunstâncias graves que tornem prudente distanciar os nascimentos de filhos ou mesmo suspendê-los". Assim, salienta o papa, "o conhecimento dos ritmos naturais da fertilidade da mulher se transforma em fato importante para a vida dos cônjuges". Em outras palavras, o único anticoncepcional autorizado pela Igreja é o popularmente conhecido como "folhinha", que o papa define, de maneira muito mais culta, como "métodos de observação".
Deus do céu. O El País e o tradutor enlouqueceram. "Folhinha" não era o nome do suplemento infantil da Folha de S.Paulo? O nome popular disso que o tradutor chamou de "folhinha" é tabelinha!

Além do mais, ela não é o único método natural tolerado pela Igreja; existem vários outros, baseados em muco cervical, temperatura...
De cada cem mulheres que o utilizam, entre 14 e 24 ficam grávidas.
Tipo, é chutômetro ou tem algum estudo a respeito?
"É verdade", reflete Bento 16, "que a solução técnica aparece muitas vezes como a mais fácil também nas grandes questões humanas, mas na realidade esconde a questão de fundo, que tem a ver com o sentido da sexualidade humana e com a paternidade responsável, para que seu exercício possa ser a expressão do amor pessoal". E conclui: "A técnica não pode substituir o amadurecimento da liberdade, quando está em jogo o amor". Para terminar, o papa exorta os sacerdotes a pregar para os casais uma mensagem "que os oriente a entender com o coração o maravilhoso projeto que Deus inscreveu no corpo humano".
Pelo menos dessa vez os manés do El País colocaram extensas citações do Papa, o que nos dá algo de bom para ler, apesar das palhaçadas mais acima.