segunda-feira, 3 de março de 2008

Na Folha Online, a desonestidade suprema

Só vi agora, mas a notícia é de ontem:

De maioria católica, STF julga uso embriões nesta quarta-feira

O primeiro parágrafo é simplesmente absurdo:
Um plenário composto por ministros católicos decidirá a partir da próxima quarta-feira (5) o futuro no Brasil das pesquisas com células-tronco de embriões humanos, em uma sala que ostenta um grande crucifixo na parede. A tendência dos 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) é liberá-las, apesar das pressões da Igreja Católica contra ela.
A matéria pode não afirmar nada com todas as letras, mas insinua: os ministros do Supremo que votarem contra a pesquisa o terão feito não por motivos jurídicos, mas simplesmente porque são católicos. Isso é canalhice (pronto, falei) da Folha Online.

Querem apostar que, depois da votação, as reportagens virão assim? Na hora de mostrar os votos contrários à pesquisa, os repórteres se limitarão a lembrar que os ministros são católicos; na hora de mostrar os votos favoráveis, teremos longas citações dos ministros, com argumentações desenvolvidas.

A picaretagem continua:
O julgamento será permeado por questões religiosas e argumentos emocionais, tanto por parte da igreja quanto da comunidade científica, que estão em lados opostos nessa batalha.
Mentira deslavada. A comunidade científica está dividida sobre o tema. Do contrário, não haveria tantos cientistas contrários à pesquisa. Na linha de frente da argumentação contrária ao uso de embriões, por exemplo, estão três cientistas: a Alice Teixeira, a Lilian Eça e a minha amiga Lenise Garcia.

Mas, para os meus colegas da imprensa, isso pouco interessa: se os juristas e os cientistas contrários à pesquisa são católicos, quaisquer argumentos jurídicos e científicos que eles apresentem nunca serão passados adiante; ou, se forem, virão sempre com aquela ressalva: "o cientista/jurista Fulano, que é católico fervoroso...", quer dizer, se um cientista fala algo contra a pesquisa, não é porque ele estudou anos e anos o assunto, de um ponto de vista meramente científico, e sim porque ele é católico. Isso é, como eu disse, canalhice pura.

A Folha Online, no entanto, não se contenta com pouco.
O debate será contaminado por argumentos emocionais disfarçados de teses jurídicas.
Como eles sabem? Quer dizer que nenhum dos lados está usando a lei num debate realizado na mais alta corte do país?
a comunidade científica afirma que milhões de pessoas portadoras de doenças diversas dependem da pesquisa com células-tronco para a cura e que as células de embriões são mais promissoras que as adultas (às quais os religiosos não objetam), já que, diferentemente destas, têm a capacidade de se diferenciar em qualquer tipo de tecido no organismo.
Outra mentira. Muitos cientistas (nem é a Igreja, na verdade) têm demonstrado que as pesquisas com células-tronco adultas dão muito mais resultados que as pesquisas com células embrionárias. Pergunte a qualquer cientista honesto (isso faz diferença) e você vai ouvir que, em tese, as células embrionárias até poderiam, sim, ser tudo isso que dizem delas; mas que, na prática, as células-tronco adultas dão de goleada, enquanto as células embrionárias não conseguiram passar do status de eterna promessa. Em breve o site Sociedade Católica promete colocar no ar uma lista com 73 doenças que já podem ser tratadas com células-tronco adultas. Quantas doenças hoje podem ser tratadas com células embrionárias? A resposta está no formato de um dos quitutes preferidos de Homer Simpson.

4 comentários:

Anônimo disse...

"A resposta está no formato de um dos quitutes preferidos de Homer Simpson."
kkkkkkkkkkkkkkkkkk


"Na linha de frente da argumentação contrária ao uso de embriões, por exemplo, estão três cientistas: a Alice Teixeira, a Lilian Eça e a minha amiga Lenise Garcia."

Seria a solução para isso omitir a religião? Afinal os ateus são bem quistos pela casta dos jornalistas da nossa imprensa.
À propósito, eles sempre têm razão. Como diz o meu pai, que é um destes profissionais, todo jornalista crê veementemente que é Deus.

Alexandre Magno disse...

Você diz: "A matéria pode não afirmar nada com todas as letras, mas insinua: os ministros do Supremo que votarem contra a pesquisa o terão feito não por motivos jurídicos, mas simplesmente porque são católicos. Isso é canalhice (pronto, falei) da Folha Online."

Cuidado! Parece até que você está assumindo que ser católico é um demérito.

Você chinga uns de canalhas e outros de picaretas?

"Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares." (Efésios 6,12)

Você diz: "quer dizer, se um cientista fala algo contra a pesquisa, não é porque ele estudou anos e anos o assunto, de um ponto de vista meramente científico, e sim porque ele é católico."

Cuidado novamente! Parece até que você está assumindo a Ciência como o verdadeiro e único parâmetro.

E nós, será que sabemos o que escrevemos?

Anônimo disse...

ZERO! :D

Anônimo disse...

Análise precisa. Se os cientistas são ateus, a reportagem não menciona. Se são judeus não praticantes, idem. Vamos voltar ao tempo das catacumbas!