sexta-feira, 7 de março de 2008

Falta informação ao filósofo

Outro anti-católico de carteirinha é o Helio Schwartsman, editorialista da Falh... oops, Folha de S.Paulo. Filósofo, ele adora descer o malho nos católicos em nome do avanço da ciência ou algum outro dogma iluminista. Na coluna de anteontem, ele resolveu baixar ainda mais o nível:

O prazer de perdoar

O texto repete a mesma lenga-lenga anti-católica que já conhecemos, e deixo as respostas adequadas para pessoas mais competentes. O que eu faço aqui é me limitar a mostrar que o editorialista-filósofo não faz muito bem o dever de casa na hora de pesquisar sobre certos assuntos.
Embora os "amici curiae" evitem dizê-lo nos autos, o ponto central, que torna coerente a posição do Vaticano, é um dogma "de fide": o homem é composto de corpo e alma. E, para a igreja, esta é instilada no novo ser no momento da concepção. Só que ninguém jamais demonstrou que existe alma e muito menos que ela se instala no embrião quando o espermatozóide fertiliza o óvulo. O dissenso não opõe apenas religiosos a vis ateus. Uma das mais importantes autoridades da igreja, santo Tomás de Aquino, afirmou, acompanhando Aristóteles, que a alma de garotos só chegava ao embrião no 40º dia. Já a de garotas, talvez porque fossem mais lentas para arrumar-se, só no 48º dia.
Infelizmente essa coisa de "a Igreja ensina que a alma se infunde no momento da concepção" é repetida até mesmo em meios católicos. Já tive um debate numa comunidade de Orkut sobre o assunto, quando alguém trouxe um texto de algum padre desses que faz sucesso em canais católicos (nada contra). Mas, já que o Schwartsman se deu o trabalho de ir pesquisar Tomás de Aquino, podia ter ido também aos arquivos online da Congregação para a Doutrina da Fé, onde está o documento mais recente que trata do assunto. É a Declaração sobre o Aborto Provocado, de 1974.

Vamos aos trechos relevantes. Os negritos são meus:
7. E no decorrer da história, os Padres da Igreja, bem como os seus Pastores e os seus Doutores, ensinaram a mesma doutrina, sem que as diferentes opiniões acerca do momento da infusão da alma espiritual tenham introduzido uma dúvida sobre a ilegitimidade do aborto. É certo que, na altura da Idade Média em que era opinião geral não estar a alma espiritual presente no corpo senão passadas as primeiras semanas, se fazia uma distinção quanto à espécie do pecado e à gravidade das sanções penais.

(...)

13. A esta evidência de sempre (absolutamente independente das discussões acerca do momento da animação)

(...)

nota de rodapé 19: Esta Declaração deixa expressamente de parte o problema do momento de infusão da alma espiritual. Sobre este ponto não há tradição unânime e os autores acham-se ainda divididos. Para alguns, ela dá-se a partir do primeiro momento da concepção; para outros, ela não poderia preceder ao menos a nidificação. Não compete à ciência dirimir a favor de uns ou de outros, porque a existência de uma alma imortal não entra no seu domínio. Trata-se de uma discussão filosófica, da qual a nossa posição moral permanece independente, por dois motivos: 1° no caso de se supor uma animação tardia, estamos já perante uma vida humana, em qualquer hipótese, (biológicamente verificável); vida humana que prepara e requer esta alma, com a qual se completa a natureza recebida dos pais; 2° por outro lado, basta que esta presença da alma seja provável (e o contrário nunca se conseguirá demonstrá-lo) para que o tirar-lhe a vida equivalha a aceitar o risco de matar um homem, não apenas em expectativa, mas já provido da sua alma.
Conclusão: a Igreja nunca se pronunciou definitivamente sobre o momento exato da infusão da alma. Então, por enquanto é lícito defender tanto a animação imediata quanto a animação tardia. O que não se pode é afirmar taxativamente que "a Igreja ensina que a alma se infunde em tal ou qual momento" porque, como vimos, até o momento o assunto ainda está em aberto.

Isso derruba totalmente o argumento do Schwartsman. Para ele, a Igreja defenderia o início da vida na concepção por causa do seu ensinamento sobre a infusão da alma. Mas, na verdade, se a Igreja não sabe ainda qual é o exato momento da infusão da alma (como acabamos de demonstrar), tem de haver outro motivo para a Igreja defender a vida desde a concepção. E esse motivo é dado pela ciência, por mais que o Schwartsman ache isso uma "bobagem".

Ele também afirma que "ninguém jamais demonstrou que existe alma". Diz isso como se fosse um grande golpe desmoralizador na Igreja, sem notar que a sua afirmação é um tanto óbvia, já que a alma é uma realidade espiritual. E o contrário também é verdadeiro, como diz a nota de rodapé do texto da CDF: ninguém jamais demonstrou que não existe alma. E vejam que, lá em 1974, a CDF já respondia ao argumento que se levanta 34 anos depois. Ainda que o embrião não tenha alma, ainda que não se possa provar cientificamente a existência ou não de alma no embrião, no feto, ou até mesmo em mim e em você, a evidência científica garante a presença de vida humana, que merece ser respeitada.

Vejam só: 34 anos antes, a Igreja dando respostas a questões levantadas hoje... tem como não acreditar que Deus assiste essa Igreja?

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Márcio, muito obrigado. Mais uma vez você deu o ponta-pé inicial para que eu pudesse mandar um e-mail contestando os "fatos" do artigo. Este blog está sendo extremamente útil.


Deus abençoe!

Anônimo disse...

Marcio

Também usei "material" seu na resposta que enviei ao Hélio.

Obrigado e parabéns pelo blog!

Anônimo disse...

Creio que o Paulo Henrique trabalhe na e para a Record.

É bem provável que esteja sendo porta-voz do chefe (IURD)!!

É o típico sujeito amoral, seja na Globo ou na Record, ela "adota" o moral corrente ou de ocasião.