segunda-feira, 3 de março de 2008

Depois da Folha Online, é a vez do André Petry

Vocês viram no post abaixo a picaretagem da Folha Online e aquele argumento muito comum usado pela mídia de desqualificar os argumentos contra a pesquisa com células-tronco, ou o aborto, ou a eutanásia, ou sei lá mais o que, simplesmente afirmando que esses argumentos vêm de católicos, e por isso não merecem ser considerados. Mesmo que não falem nada sobre religião. Mesmo que estejam muito bem fundamentados jurídica ou cientificamente.

Pois bem. André Petry, colunista escancaradamente anti-católico da Veja, prepara a mesma armadilha desonesta na coluna que assina na revista dessa semana. Chama-se É pesquisa (ou lixo).

Como lhe faltam argumentos realmente decentes, Petry apela. Depois de descrever a tentativa do então procurador-geral da República, Claudio Fonteles, de derrubar a pesquisa com embriões, Petry diz:
Pronto: a ciência virou sinônimo de assassinato, geneticistas viraram homicidas.
Isso é uma generalização besta, que não se espera de alguém com um mínimo de inteligência. Ou de decência. Imagino que Petry seja inteligente, então resta a outra alternativa. Não é "a ciência" que vira assassinato, não são "geneticistas" que viram homicidas, e sim um tipo particular de ciência e de cientista que não demonstra o menor respeito pela vida humana. O raciocínio infantil de Petry desconsidera que existe uma ciência e existem cientistas pautados pela ética.

Mas continua:
O procurador (...) apresentou-a [a questão sobre o início da vida] porque é um católico ardente.
Quer dizer: ainda que a Adin do procurador Fonteles se baseie exclusivamente em pontos jurídicos como a proteção constitucional da vida, e ainda que essa argumentação seja irrefutável juridicamente, isso não vale nada para Petry porque Fonteles é católico.

E a seguir:
Na ação ao STF, ele lista cientistas que defendem sua tese, mas omite que são católicos militantes. Um é da CNBB. Outro é da Academia Pro Vita, do Vaticano. Seis assinam obra da Pastoral Familiar. Os estrangeiros pertencem à reacionaríssima Opus Dei.
Ou seja, as conclusões científicas e as experiências desenvolvidas pelos cientistas listados por Fonteles não valem nada porque são católicos. Petry simplesmente presume a desonestidade intelectual dessas pessoas apenas por causa de sua religião. "Imagine, eles são católicos, devem ter distorcido todas as suas pesquisas para chegar às conclusões que queriam", é como Petry pensa. Mas a ciência não tem religião. A força da gravidade vale para católicos, judeus, ateus e hare-krishna. Não são apenas os embriões católicos que são humanos, os outros também são. Porque os critérios para definir a vida são científicos, e não religiosos. Nem o Fonteles, nem a Lilian Eça, nem a Alice Teixeira, nem a Lenise Garcia estão dizendo "a vida começa na concepção porque o Papa disse que é assim". Eles estão usando ciência e Direito, e não religião, para combater as pesquisas.

O que eu gostaria de ver é o Petry contestar todos os argumentos puramente de caráter científico e jurídico que se levantam contra a pesquisa com embriões. Mas já adianto: ele é incapaz disso. Justamente por ser incapaz é que ele parte para o ataque ad hominem: "não acreditem no que eles dizem porque são católicos". Qualquer pessoa inteligente e honesta veria que o raciocínio de Petry é firme como prego na gelatina. O problema é que o Brasil não é assim um país repleto de gente inteligente e honesta (basta ver os resultados das últimas eleições), então a picaretagem intelectual de Petry cola - e ele sabe disso.

E engraçado que ele só concede a presunção de desonestidade aos católicos. Logo depois ele menciona uma pesquisa do Ibope encomendada pelas diab... quer dizer, "Católicas" pelo Direito de "Decidir" segundo a qual as pessoas são a favor das pesquisas com embriões. Essa ONG diabólica é explicitamente anti-católica. Mas Petry em nenhum momento insinua parcialidade por parte delas. Só os católicos de verdade é que são desonestos, não é mesmo? Daí se percebe o (mau) caráter de André Petry.

Aliás, fico imaginando se Petry fosse juiz num país que admite a pena de morte. Afinal, a argumentação dele é mais ou menos a seguinte: ninguém sabe exatamente quando começa a vida. Então, podemos detonar embriões. Não deveria ser justamente o contrário? Se não temos certeza, então aqueles embriões podem muito bem ser gente, e então estaríamos eliminando seres humanos indefesos. Imagino Petry julgando um caso em que não há certeza absoluta da culpa de um suspeito. O fato de o acusado poder ser inocente não seria empecilho, então, para ele ser condenado, não é mesmo? Alguém topa fazer essa pergunta a ele?

8 comentários:

Anônimo disse...

Topei, e mandei.
Assim que tiver um retorno (se eu tiver um retorno) volto a comentar aqui.

Anônimo disse...

Topei também e já mandei.

Também espero um retorno.

Alexandre Magno disse...

Marcio, penso que você poderia se ater a mostrar a verdade, como fez em uns posts que falavam sobre arte. Nos últimos posts, sobre embriões e pesquisas científicas, você tem atacado muito pessoas, invés de atacar tão somente os sofismas e as mentiras.

"Pois não é contra homens de carne e sangue que temos de lutar, mas contra os principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares." (Efésios 6,12)

Anônimo disse...

Infelizmente não responderam.

=/

Anônimo disse...

Há muito deixei de ler VEJA, por causa do Petry, do Mainardi e de matérias tendenciosas, odientas e desonestas.

Anônimo disse...

Gostaria de dar o retorno do e-mail enviado ao Sr. Petry.
Inicialmente, ele respondeu à comparação feita argumentando que um embrião não possui identidade jurídica (!?), sendo apenas um “amontoado de células”.

Contra-argumentei cada ponto, explicitando que por amontoado de células temos, inclusive, minha amídala.
E que o embrião é um homo sapiens igualzinho a esta que escreve agora.
Bueno, a situação é esta: ele escreveu uma coluna, recebeu questionamentos, respondeu a alguns e a outros não.

Eu considero importante que as pessoas saibam quem são os jornalistas e o quê eles propagam nos veículos de comunicação. Se conhecemos o erro, devemos corrigi-los com caridade. Se conhecemos os acertos, devemos evidenciá-los e propagá-los a todos. Ou não?

Cristina.

Anônimo disse...

Isso mesmo Cristina.

À propósito, não acho que ele vá me responder mesmo...

Anônimo disse...

Por causa do anticlericalismo visceral e absolutamente gratuito do "jornalista" André Petry, deixei de assinar a Veja faz um bom tempo. Ele deve ganhar para se fazer passar de bobo quando o assunto toca na esfera do religioso.