quarta-feira, 28 de maio de 2008

E não é que ele existe mesmo?

Os cassetas sempre fazem algum trocadilho com os nomes dos jornalistas da Globo, e é assim que Alexandre Garcia virou Alexandre Gracinha, interpretado pelo Beto Silva (infelizmente não achei fotos). Antes fosse só piada: Alexandre Gracinha existe de verdade e apareceu hoje cedo, no Bom Dia Brasil, falando ao vivo de Brasília sobre o julgamento das células-tronco embrionárias no STF (que ainda está rolando, até onde eu sei).

Primeiro ele começou lembrando que tanto o ministro Carlos Direito quanto o ex-procurador-geral Cláudio Fonteles são "católicos fervorosos". Raios, o que isso tem a ver com a história? Por que só eles aparecem na imprensa com esse aposto? Por que não procuram saber a religião dos outros ministros, ou da Mayana Zatz? Por exemplo, o ministro Ayres Britto, aquele que redigiu um voto antalógico, é seguidor de um tal Osho, mas se depender do Alexandre Gracinha, e de todo o resto da imprensa, ninguém ficaria sabendo. "Ah, mas no voto dele não tem citações do Osho, então a religião do Ayres é irrelevante", alguém pode dizer. Então tá: na Adin do Fonteles e na argumentação do Carlos Direito também não há citações de encíclicas papais - é só fundamento jurídico e científico. São textos que poderiam ter sido escritos por um protestante, um judeu, um budista, um ateu... mesmo assim, 110% das menções ao ministro e ao ex-procurador-geral vêm com o "católico fervoroso" quase como se fosse um sobrenome.

Aí a apresentadora pergunta o que acontece com os embriões se o Supremo der razão ao Fonteles. Então o Gracinha responde que vão pro lixo, ponto. Não que "poderiam" ir pro lixo: eles vão. E, indo pro lixo, acabariam com a esperança de tantas pessoas que esperam a cura para seus problemas (isso apesar de as células embrionárias até hoje não terem mostrado resultado nenhum) - e o Gracinha arremata com sua tentativa de teologia, lembrando que a esperança é uma das virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade, caridade que precisaria ser exercida para com os portadores de doenças "curáveis" com o uso de embriões.

Decerto o Gracinha deve ter terminado a entrada ao vivo pensando "nossa, arrasei com esse negócio das virtudes". É, arrasou com o bom senso. Vamos rapidinho ao Compêndio do Catecismo da Igreja Católica para comprovar que a virtude teologal da esperança é algo muito diferente de esperar que, matando embriões, se consiga a cura para Parkinson, Alzheimer ou que se faça um paraplégico voltar a andar.

387. O que é a esperança?

1817-1821;
1843

A esperança é a virtude teologal por meio da qual desejamos e esperamos de Deus a vida eterna como nossa felicidade, colocando a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos na ajuda da graça do Espírito Santo para merecê-la e perseverar até ao fim da vida terrena.
(ah, sim, aproveite para verificar que "caridade" também não tem nada a ver com destroçar seres humanos para pesquisas que até agora não deram em nada)

Conclusão: na época em que os repórteres apenas não sabiam o que era um cardeal, mas ainda não se metiam a dar uma de teólogos, eu era feliz e não sabia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, qualquer crian�a entende que se algu�m est� defendendo o direito de uma pessoa n�o ser usada como material de pesquisa, tamb�m defende o direito de essa mesma pessoa n�o ser jogada no lixo!

Realmente essa entrada ao vivo deve ter sido no n�vel intelectual (ou abaixo) das piadas do Casseta...

Anônimo disse...

Depois que a Míriam Leitão virou vaticanista durante o conclave, o Gracinha pode virar doutor em teologia moral com sua vasta experiência ancorando o DFTV.

Pelo menos você não mora em Brasília e não precisa agüentar esse jeca dando lições de moral na hora do almoço -- porque ele xinga todo mundo, playboys, maus motoristas, governos, gente que joga lixo na rua... a conduta e a casa dele devem ser impecáveis.

Anônimo disse...

Isso é porque vocês não viram o circo que o Correio Braziliense armou sobre esta questão. Já mandei um e-mail reclamando e vou cancelar a assinatura.