quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Papa vai revogar a revogação?

É isso que o Jornal da Globo de ontem deu a entender na reportagem sobre o ultimato do Vaticano ao bispo Richard Williamson, da Sociedade de São Pio X. Que, se ele não retratasse de suas declarações revisionistas, não seria "desexcomungado".

Aqui vamos deixar uma coisa clara: Richard Williamson teve sua excomunhão levantada, assim como os outros três bispos. Isso é fato. Significa que agora ele pode receber os sacramentos. Mas tanto ele quanto os outros três ainda estão suspensos, ou seja, não podem celebrar os sacramentos licitamente. Claro que, se celebrarem missa, se ordenarem padres, serão sacramentos válidos (haverá transubstanciação, os ordenados se tornarão mesmo sacerdotes), mas ilícitos porque feitos sem a autorização de quem de direito.

Então, Williamson e os outros três ainda não estão plenamente integrados à Igreja; para isso eles ainda precisam de várias etapas de regularização, especialmente um título. Explico: todo bispo (exceto os aposentados) precisa estar "à frente" de alguma diocese. Dom Moacyr é bispo de Curitiba; dom Odilo, de São Paulo. Mas e os auxiliares, ou os bispos que trabalham na Cúria, ou são superiores de alguma ordem? Eles recebem o título (por isso são chamados "bispos titulares") de alguma diocese que existiu em priscas eras e acabou extinta por quaisquer circunstâncias. Dom João Seneme, por exemplo, é auxiliar de Curitiba e titular de Albulae, que fica na Mauritânia. Dom Fernando Rifan é administrador apostólico dos padres de Campos e titular de Cedamusa, que também ficava na Mauritânia. Dom Javier Echevarría é prelado do Opus Dei e titular de Cilibia, no norte da África. Pois bem, é altamente provável que os bispos da SSPX também ganhem, cada um, uma diocese dessas.

Mas e se Williamson não se retratar? Das duas uma: ou ele não ganha título nenhum, e fica numa espécie de "limbo episcopal", ou até ganha um título, mas fica encostado por aí, tipo um Jacques Gaillot da vida, sem fazer nada de útil na Igreja. Mas "reexcomungado" ele não será. A não ser que ele resolva criar seu cisma particular.

3 comentários:

Alexandre Magno disse...

Dê uma olhada na pérola do Arnaldo Jabor. Termina com "O Papa não é infalível?"

Anônimo disse...

Nossa, o Jabor conseguiu se tornar um vaticanista tão competente quanto a Míriam Leitão na época do conclave. Todo mundo dá pitaco de tudo.

Anônimo disse...

Márcio

Li em algum jornal europeu, mas não me recordo qual, que essa entrevista de Williamson foi feita em meados do ano passado para uma mídia (TV?) sueca que não havia ainda sido divulgada. E, se entendi corretamente, apenas após a divulgação do levantamento das excomunhões é que teria vindo a público.

A se confirmar essa versão fica reforçada a hipótese de que o desconhecimento do Papa (sobre essas declarações) não foi "falha" do Vaticano...