quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

De que adianta saber o que é uma indulgência...

... se na hora de fazer a matéria o sujeito comete outras barbaridades?

O Wagner me mostra matéria do NYT republicada pela Folha de S.Paulo desta quarta. Infelizmente na internet está só para assinante.

Indulgência volta à voga na Igreja Católica
Verdade que a gravata, linha fina, chamem como quiser, dá calafrios:

Para atrair fiéis ao confessionário, Bento 16 aumenta oferta de perdão dos pecados, restituída por antecessor
Sabemos que indulgência não é perdão dos pecados, e sim remissão da pena temporal. Curiosamente isso vai muito bem explicado na reportagem. Então como conseguem cometer um negócio desses logo após o título?

Mas parece que explicar corretamente o que é uma indulgência é o único mérito do texto. O resto é uma palhaçada só. Por exemplo:

Como a missa em latim e as sextas-feiras sem carne, a indulgência foi uma das tradições separadas da prática da maioria católica nos anos 60 pelo Concílio Vaticano 2º
Não, não adianta você ir aos documentos do Vaticano II. Lá você não encontrará nada sobre acabar com a missa em latim, a abstinência das sextas-feiras (ela ainda existe, sabiam?) e as indulgências. Acho que deve haver uma regra nas redações. Se o jornalista não sabe por que algo mudou no mundo católico, coloca a culpa no Vaticano II. Hoje as casulas góticas são mais usadas? "Deve ter sido coisa do Vaticano II", pensa o repórter. Temos padres cantores? "Humm, acho que foram incentivados pelo Concílio", dirá ele.

Na verdade as indulgências nunca deixaram de existir. Podem ter sumido do conhecimento comum dos católicos, mas a Igreja sempre as ofereceu. É o que o bispo DiMarzio (nome bonito) vai afirmar lá no fim da matéria, mas parece que o jornalista só se preocupou em copiar as aspas, e não em verificar se o que o bispo diz bate com o resto da matéria.

Há indulgências parciais, que reduzem o tempo de purgatório por determinado número de dias ou anos
Havia. Isso foi abolido (a medição em tempo humano, não a indulgência parcial) já faz um tempo.

Não se podem comprar indulgências -a igreja proibiu a venda em 1567
Opa! De onde saiu isso? Que eu saiba a Igreja nunca permitiu venda de indulgências...

"As confissões vêm diminuindo há anos, e a igreja está muito preocupada com isso", disse o jesuíta Tom Reese, ex-editor do semanário "Catholic Magazine America". Numa cultura secularizada de psicologia pop e autoajuda, disse ele, "a igreja quer pôr a ideia do "pecado pessoal" de volta na equação. As indulgências são uma maneira de lembrar aos fiéis a importância da penitência". "A boa notícia é que não as vendemos mais", acrescentou.
Lendo essa asneira em negrito, não me surpreende que, assim que Bento XVI foi eleito, uma das primeiras cabeças a rolar não tenha sido na Cúria, e sim na revista America: justamente a cabeça do padre Reese...

2 comentários:

Alexandre Magno disse...

"Não, não adianta você ir aos documentos do Vaticano II. Lá você não encontrará nada sobre acabar com a missa em latim"

Missa em latim? Você deve estar se referindo à forma extraordinária do Rito romano.

Lendo essa asneira em negrito, não me surpreende que, assim que Bento XVI foi eleito, uma das primeiras cabeças a rolar não tenha sido na Cúria, e sim na revista America: justamente a cabeça do padre Reese...

Isso sobre o padre Reese poderia ter ficado mais bem explicado.

Penso que falar de "asneira" foi desnecessário. Há como denunciar o erro sem diminuir quem erra.

Anônimo disse...

Tenho uns amigos que chamam de sutiã! :D É a primeira vez que leio tratar-se de uma gravata.