domingo, 27 de abril de 2008

Freeedom, como diria William Wallace

Passei as duas últimas semanas dando jornada dupla no jornal: como editor de Vestibular e editor-assistente de Vida e Cidadania (o popular "primeiro caderno"). Chegava em casa sem vontade de abrir o micro. Mas isso acabou.

E volto à ativa com um artigo do André Petry (de novo). Dica da Cristina. Na verdade nem tentei procurar na Veja, achei no Google mesmo. É sobre a visita do Papa aos Estados Unidos. Petry diz que nada do que o Papa tem feito até agora é suficiente para reparar o escândalo de pedofilia (e olha que muitos dos casos nem eram pedofilia, e sim homossexualismo mesmo, já que a "vítima" era maiorzinha e sabia muito bem o que fazia).

Pois bem, a certa altura o Petry diz:

até hoje o Vaticano não mudou o código canônico, no qual consta tudo o que impede um padre de manter-se padre ou virar padre. A saber: homicídio, automutilação, tentativa de homicídio ou auxílio a aborto. Abuso sexual pode? Pode. Pedofilia pode? Pode.
Dizer uma coisa dessas é canalhice pura. Petry está falando do cânon 1041, o que enumera impedimentos para alguém receber o sacramento da Ordem. Agora, concluir que só porque pedofilia não está na lista a Igreja faça vista grossa para o fato é manipular o texto canônico de maneira torpe. Se bem que, se considerarmos a pedofilia como uma desordem psíquica, os pedófilos estariam, sim, impedidos de receber o sacramento porque cairiam no item 1 do cânon 1041 - item, aliás, que o Petry esqueceu, ou quis esquecer, de mencionar.

Se bem que, dos inimigos da Igreja, o que eu menos espero é compromisso com a verdade...

terça-feira, 15 de abril de 2008

O Papa nos Estados Unidos...

... e o Luís Fernando Silva Pinto, no Jornal Nacional, acaba de dizer que o Papa, como George W. Bush, "é contra o aborto, o casamento entre homossexuais e a pesquisa com células-tronco." Sim, ponto final depois de "tronco", sem a necessária adição do "embrionárias". Deus do céu, será possível?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

E agora, em defesa da CNBB

Só esclarecendo uma coisa no caso da carta do ENP, já que tem gente nos comentários malhando a CNBB. No caso em questão, os bispos do Brasil agiram corretamente. Foram eles que determinaram que o documento do Conselho Nacional de Presbíteros (o que será levado a Roma) não traga pedidos de flexibilização do celibato. De quebra, a CNBB também vetou a referência à canonização de dom Helder Câmara e outras personalidades do clero brasileiro.

O que aconteceu foi que dom Geraldo Lyrio comprou a lenga-lenga do presidente do CNP de que o Estadão teria "distorcido" o pedido dos padres no documento. Mas que o saldo final do episódio é amplamente positivo para a CNBB não se pode negar.

domingo, 13 de abril de 2008

Agora, em defesa dos jornalistas

Os padres fazem besteira (e das grandes), e agora que a CNBB resolveu dar um pau neles, vêm chorando e dizendo "fomos distorcidos". Façam-me o favor.

Vocês devem se lembrar daquele Encontro Nacional de Presbíteros, em que o documento final, que seria enviado a Roma, pedia o fim da obrigatoriedade do celibato. Bom, aí o Estadão lascou um título que dizia Padres sugerem o fim do celibato.

Pois bem, agora que a CNBB analisou o documento e decidiu cortar as referências ao assunto na versão que será enviada a Roma, o presidente do Conselho Nacional de Presbíteros, padre Francisco dos Santos, em vez de assumir e dizer "é, fizemos bobagem", resolve atacar a imprensa. Afinal, como vocês sabem, um bom socialista, ainda que travestido de católico, nunca faz nada de errado. Tudo sempre é culpa dos outros: da imprensa canalha (como diz o Requião), da herança maldita, essas coisas. Padre Chico diz que o Estadão divulgou as coisas de maneira distorcida, pois afinal os padres não estavam pedindo que não houvesse mais celibatários. O pior foi ver o presidente da CNBB, dom Geraldo Lyrio, embarcando na mesma lenga-lenga.

Eu não vi o jornal em papel no dia em questão, mas tenho certeza de que o editor não devia ter muito mais espaço do que os 32 toques, incluindo espaços, da frase escolhida para ser título da matéria. A crítica do padre Chico é coisa de quem não tem a menor idéia de como funciona um jornal. O padre deve achar que havia espaço para escrever um título parecido com "Padres sugerem o fim do celibato obrigatório, mas acham que não deve deixar de haver sacerdotes celibatários".

E, convenhamos, qualquer pessoa que acompanhe o assunto sabe o que a expressão "fim do celibato" quer dizer. Precisa ser muito sem noção para achar que o ENP quisesse que, daqui em diante, os padres fossem todos casados, ou obrigados a se casar na marra. Claro que a leitura correta da manchete era a de que os padres não queriam mais que o celibato fosse obrigatório. Existe aí uma elipse que, ao menos para mim, parece evidente: "fim do celibato" na verdade é "fim da obrigatoriedade do celibato". Mas "obrigatoriedade" é palavra grande demais para um título de jornal.

Esse blog só existe porque há jornalistas que cometem muita bobagem. Mas, pelo menos neste caso, a bobagem mesmo foi cometida é no Encontro Nacional de Presbíteros. Não venham tentar jogar a culpa nos jornais, agora.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Isso que dá botarem repórter LEIGO no assunto...

Acabei de ver a matéria do Jornal Nacional sobre o encerramento da Assembléia Geral da CNBB, em Itaici. Infelizmente não tem link. Ou talvez felizmente, porque a matéria é um desastre.

Começa com uma dessas "celebrações da palavra" que infestam (sim, o verbo é esse mesmo) o país, comandada por uma mulher que distribui comunhão, etc. etc. Aí me vem um sujeito que diz "é a mesma coisa [que missa celebrada por padre], o que importa é o coração". E aí vem a ministrete (copyright Carlos Ramalhete) explicando que a paróquia tem 28 comunidades e dois padres, então tem que ser daquele jeito.

Aí já cabem duas observações:

Bom, eu sei, você sabe, que celebração da palavra e Missa não são a mesma coisa nem aqui, nem em Júpiter. Mas isso pouco importa para a reportagem. Tudo bem que não chega a ser obrigação do repórter esclarecer os telespectadores sobre a forma certa de cumprir o terceiro mandamento - essa obrigação é do bispo do lugar e dos dois padres da paróquia. Também é do fiel, que deveria correr atrás de formação. Mas se os pastores não se encarregam de dizer que não, não é a mesma coisa, o fiel fica parcialmente desculpado. Parcialmente.

E, convenhamos, paróquia com dois padres já está muito acima da média nacional. Estão reclamando do quê? A não ser que a paróquia tenha o tamanho de Minas Gerais, dois padres podem muitíssimo bem dar conta de garantir que suas 28 comunidades cumpram adequadamente o preceito dominical. Têm a tarde de sábado e o domingo inteiro para isso.

Mas aí segue a reportagem, e o intrépido jornalista nos explica que "leigo" é aquela pessoa não-ordenada que desempenha serviços na Igreja. Espero que não tenhamos uma legião de telespectadores passando por crise de identidade. Eu, por exemplo, não uso jaleco para distribuir a Eucaristia na missa; não participo de nenhum "ministério" de música, sequer do coral da Madalena; não faço jornalzinho de paróquia. E também não sou ordenado. Sou o que, então? Mas felizmente o repórter se engana. Para ser leigo, basta não ser ordenado ou religioso/a. Até o repórter, se for católico, também é leigo, embora eu ache que ele não saiba disso.

Daí pra frente a coisa fica um mero relato do que houve em Itaici. Também ficamos sabendo que, para atender decentemente todas as paróquias brasileiras, precisaríamos de três vezes o número atual de padres. Olha, eu acho que a estatística é falsa. Porque, se pegarmos todos os padres que hoje gastam tempo apoiando invasão de terra, escrevendo artigos e livros pró-heresia da Libertação, "ganhando o coração" de garotões com Pajeros, dando aula de "teologia" modernista nas PUCs da vida, e colocássemos diante dos altares e dentro dos confessionários, tenho a impressão de que daria, sim, pra atender as necessidades dos fiéis. Isso, claro, porque eu acredito que os fiéis necessitam é da salvação da sua alma, e não da revolução socialista.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Tem coisas que a gente nem precisa ler

No fim de semana passado, estávamos a Cristina e eu no supermercado quando, na fila do caixa rápido, descobrimos o número mais recente de Aventuras na História, um dos filhotes da Super (o outro é a Revista das Religiões, que até há um tempo era editada pela minha veterana Maria Fernanda. Agora não sei mais como está).

O Fernando Tavolaro conseguiu pra mim um jpg da capa:



Acho que só de olhar dá pra concluir, sem nem mesmo ler a matéria, que o repórter nem chegou perto de A Inquisição em Seu Mundo...

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Quando é que a imprensa vai nos pedir perdão?

Ontem, como sabemos, foi o terceiro aniversário da morte de João Paulo II. E o SBT resolveu soltar um SBT Repórter sobre o Papa. Peguei no meio, na parte em que falava das viagens à África. Bom, fora a seleção musical no mínimo questionável (o Peer Gynt ficou bem deslocado, e o que tem o Dies Irae do Requiem do Mozart a ver com a divulgação da terceira parte do segredo de Fátima?), o César Filho passou uns bons minutos repetindo aquela mesmíssima lenga-lenga, que os católicos já cansaram de ouvir, sobre o "pedido de perdão pelos erros da Igreja".

Raios! Que erros da Igreja? Qualquer alfabetizado que saiba ler e depare com o texto lido pelo Papa perceberá que os erros são de pessoas da Igreja, e não da Igreja. A Igreja, como sabemos, não erra por ser o Corpo Místico de Cristo.

Caso alguém ainda tenha dúvida, favor consultar a homilia do 1.º domingo da Quaresma de 2000:

Como Sucessor de Pedro, pedi que "neste ano de misericórdia a Igreja, fortalecida pela santidade que recebe do seu Senhor, se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus filhos" (ibid.). Este primeiro domingo da Quaresma pareceu-me a ocasião propícia para que a Igreja, reunida espiritualmente à volta do Sucessor de Pedro, implore o perdão divino para as culpas de todos os crentes. Perdoemos e peçamos perdão!

(...)

4. Perdoemos e peçamos perdão! Enquanto louvamos a Deus que, no seu amor misericordioso, suscitou na Igreja uma maravilhosa messe de santidade, de ardor missionário, de total dedicação a Cristo e ao próximo, não podemos deixar de reconhecer as infidelidades ao Evangelho, nas quais incorreram alguns dos nossos irmãos, especialmente durante o segundo milénio.
Onde é que se fala de "culpas da Igreja" aí? Só se fala dos erros de pessoas, e não da Igreja.

Quando é que esses veículos de comunicação vão nos pedir perdão por distorcer desse jeito as palavras de João Paulo II?

terça-feira, 1 de abril de 2008

Haja conserva!

O blog volta à ativa, depois da loucura que foi a mudança no layout da Gazeta do Povo, com uma matéria da Veja.

A fé que move os jovens

A matéria até que está entre "decente" e "boa" (inclusive dando um merecido pau nos teólogos da libertação), exceto por uma série de escorregões concentrados numa única parte do texto:

A nova tendência vocacional tem provocado a expansão dos movimentos católicos tradicionalistas, como a radical Fraternidade de Aliança Toca de Assis e o ultraconservador Opus Dei, única organização com status de ser prelazia pessoal do papa. Esses grupos começaram a proliferar durante o papado de João Paulo II e hoje, com as bênçãos de Bento XVI, continuam a arrebanhar vocações, sem proselitismo declarado.
Primeiro que "tradicionalista" se usa para os grupos que manifestam preferência pelo rito romano na forma extraordinária, ou seja, a Missa tridentina.

Segundo que eu juro que não entendo por que 11 de cada 10 referências ao Opus Dei na imprensa trazem junto o adjetivo "ultraconservador". Podem confirmar com o professor Pasquale: "Opus Dei" não exige adjetivo anexo.

E o que faz do Opus Dei "ultraconservador"? O que a Obra pede aos seus membros? Que sigam a doutrina da Igreja em sua integridade... e só. Juro que nunca vi uma única explicação (satisfatória ou não) para se chamar o Opus Dei de "ultraconservador". Curioso é que a matéria abre com um noviço beneditino. Em cinco anos, o moço "levará uma vida de clausura", como diz a reportagem. Mas não ocorre ao jornalista dizer que a Ordem de São Bento é "ultraconservadora". Também nunca ouvi nada semelhante sobre, por exemplo, carmelitas reclusas, ou os trapistas, que são ainda mais rígidos que os beneditinos. Agora, o Opus Dei, que exige muito menos de qualquer um de seus membros do que essas ordens religiosas, bom, o Opus Dei é "ultraconservador". Dá pra entender?

E, por fim, o Opus Dei surgiu muito, mas muito antes de João Paulo II. Karol Wojtyla tinha oito aninhos quando a Obra nasceu. De qualquer modo, praticamente todo fenômeno católico recente obrigatoriamente terá "proliferado" (tenho minhas restrições a esse verbo) durante o papado de João Paulo II, simplesmente porque ele ficou quase 30 anos no trono de Pedro.

Então está lançado o desafio: encontrar alguma publicação da grande imprensa que não coloque "Opus Dei" e "ultraconservador" (ou variantes) na mesma frase. Será que é possível?