sábado, 14 de fevereiro de 2009

OK, não é assim uma discussão forte no Brasil...

... afinal, você sabe que dia é hoje (além de aniversário do Jorge Ferraz)? Em boa parte do mundo ocidental, apaixonados estão trocando bilhetinhos e presentes, pois é dia de São Valentim, que o comércio transformou em Valentine's Day, sem o "St." que remeteria a essas "coisas de católico". Aqui ninguém está nem aí porque os namorados comemoram em 12 de junho e os não-comprometidos pedem por um par a Santo Antônio.

Mas na Inglaterra a Igreja resolveu lembrar as pessoas que o santo padroeiro dos encontros felizes é o arcanjo São Rafael, e não São Valentim, que protegeria os casais já formados.

São Rafael num vitral da igreja de St. Margaret em Rottingdean.

Aí a BBC, atenta como sempre às coisas da Igreja, sempre pronta a cometer uma bobagem, escreve sobre o assunto e me solta o seguinte (negrito meu):

St Raphael, according to legend, helped Tobias enter into marriage with Sarah, who had seen seven previous bridegrooms perish on the eve of their weddings.
Na boa: "lenda" o %&@#$*}!@%! É de acordo com a Bíblia!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

De que adianta saber o que é uma indulgência...

... se na hora de fazer a matéria o sujeito comete outras barbaridades?

O Wagner me mostra matéria do NYT republicada pela Folha de S.Paulo desta quarta. Infelizmente na internet está só para assinante.

Indulgência volta à voga na Igreja Católica
Verdade que a gravata, linha fina, chamem como quiser, dá calafrios:

Para atrair fiéis ao confessionário, Bento 16 aumenta oferta de perdão dos pecados, restituída por antecessor
Sabemos que indulgência não é perdão dos pecados, e sim remissão da pena temporal. Curiosamente isso vai muito bem explicado na reportagem. Então como conseguem cometer um negócio desses logo após o título?

Mas parece que explicar corretamente o que é uma indulgência é o único mérito do texto. O resto é uma palhaçada só. Por exemplo:

Como a missa em latim e as sextas-feiras sem carne, a indulgência foi uma das tradições separadas da prática da maioria católica nos anos 60 pelo Concílio Vaticano 2º
Não, não adianta você ir aos documentos do Vaticano II. Lá você não encontrará nada sobre acabar com a missa em latim, a abstinência das sextas-feiras (ela ainda existe, sabiam?) e as indulgências. Acho que deve haver uma regra nas redações. Se o jornalista não sabe por que algo mudou no mundo católico, coloca a culpa no Vaticano II. Hoje as casulas góticas são mais usadas? "Deve ter sido coisa do Vaticano II", pensa o repórter. Temos padres cantores? "Humm, acho que foram incentivados pelo Concílio", dirá ele.

Na verdade as indulgências nunca deixaram de existir. Podem ter sumido do conhecimento comum dos católicos, mas a Igreja sempre as ofereceu. É o que o bispo DiMarzio (nome bonito) vai afirmar lá no fim da matéria, mas parece que o jornalista só se preocupou em copiar as aspas, e não em verificar se o que o bispo diz bate com o resto da matéria.

Há indulgências parciais, que reduzem o tempo de purgatório por determinado número de dias ou anos
Havia. Isso foi abolido (a medição em tempo humano, não a indulgência parcial) já faz um tempo.

Não se podem comprar indulgências -a igreja proibiu a venda em 1567
Opa! De onde saiu isso? Que eu saiba a Igreja nunca permitiu venda de indulgências...

"As confissões vêm diminuindo há anos, e a igreja está muito preocupada com isso", disse o jesuíta Tom Reese, ex-editor do semanário "Catholic Magazine America". Numa cultura secularizada de psicologia pop e autoajuda, disse ele, "a igreja quer pôr a ideia do "pecado pessoal" de volta na equação. As indulgências são uma maneira de lembrar aos fiéis a importância da penitência". "A boa notícia é que não as vendemos mais", acrescentou.
Lendo essa asneira em negrito, não me surpreende que, assim que Bento XVI foi eleito, uma das primeiras cabeças a rolar não tenha sido na Cúria, e sim na revista America: justamente a cabeça do padre Reese...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Efe ordena bispos sem autorização papal

Saiu no site do Estadão:

Lefebvriano diz que Concílio Vaticano II foi uma 'heresia'
Abrahamowicz, um dos quatro bispos aos quais o papa retirou a excomunhão, disse que Concílio 'foi uma droga'

Só avisando o pessoal da Agência Efe (e, por extensão, do Estadão) que Floriano Abrahamowicz não é bispo, e nem foi "desexcomungado" pelo Papa. Os quatro bispos são Bernard Fellay, Richard Williamson, Alfonso Galarreta e Tissier de Mallerais.

O pessoal da Efe devia saber que ordenar bispos sem autorização do Papa dá excomunhão automática. Se bem que, do jeito que eles sacaneiam a Igreja, já devem estar nessa situação faz muito tempo...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O Papa vai revogar a revogação?

É isso que o Jornal da Globo de ontem deu a entender na reportagem sobre o ultimato do Vaticano ao bispo Richard Williamson, da Sociedade de São Pio X. Que, se ele não retratasse de suas declarações revisionistas, não seria "desexcomungado".

Aqui vamos deixar uma coisa clara: Richard Williamson teve sua excomunhão levantada, assim como os outros três bispos. Isso é fato. Significa que agora ele pode receber os sacramentos. Mas tanto ele quanto os outros três ainda estão suspensos, ou seja, não podem celebrar os sacramentos licitamente. Claro que, se celebrarem missa, se ordenarem padres, serão sacramentos válidos (haverá transubstanciação, os ordenados se tornarão mesmo sacerdotes), mas ilícitos porque feitos sem a autorização de quem de direito.

Então, Williamson e os outros três ainda não estão plenamente integrados à Igreja; para isso eles ainda precisam de várias etapas de regularização, especialmente um título. Explico: todo bispo (exceto os aposentados) precisa estar "à frente" de alguma diocese. Dom Moacyr é bispo de Curitiba; dom Odilo, de São Paulo. Mas e os auxiliares, ou os bispos que trabalham na Cúria, ou são superiores de alguma ordem? Eles recebem o título (por isso são chamados "bispos titulares") de alguma diocese que existiu em priscas eras e acabou extinta por quaisquer circunstâncias. Dom João Seneme, por exemplo, é auxiliar de Curitiba e titular de Albulae, que fica na Mauritânia. Dom Fernando Rifan é administrador apostólico dos padres de Campos e titular de Cedamusa, que também ficava na Mauritânia. Dom Javier Echevarría é prelado do Opus Dei e titular de Cilibia, no norte da África. Pois bem, é altamente provável que os bispos da SSPX também ganhem, cada um, uma diocese dessas.

Mas e se Williamson não se retratar? Das duas uma: ou ele não ganha título nenhum, e fica numa espécie de "limbo episcopal", ou até ganha um título, mas fica encostado por aí, tipo um Jacques Gaillot da vida, sem fazer nada de útil na Igreja. Mas "reexcomungado" ele não será. A não ser que ele resolva criar seu cisma particular.