quinta-feira, 9 de julho de 2009

O cardeal que levou a culpa pelo que não fez

(escrito na noite de quarta, mas publicado só na manhã de quinta para não desrespeitar as regras da agência noticiosa)

Estava eu aqui vasculhando as notícias da Folhapress para o fechamento do jornal de hoje quando vi a seguinte insanidade:

Religião-Vaticano: Papa remove cardeal responsabilizado por crise sobre Holocausto
Fiquei pensando quem seria o tal cardeal. Aí o texto diz:

O papa Bento 16 removeu hoje uma autoridade do Vaticano amplamente responsabilizada por suspender a excomunhão do bispo Richard Williamson, que havia negado a amplitude do Holocausto.
O cardeal Darío Castrillón Hoyos era presidente do departamento Ecclesia Dei (Igreja de Deus) criado 20 anos atrás pelo Vaticano para buscar uma reaproximação com o grupo dissidente tradicionalista Sociedade de São Pio 10º (SSPX), que se opõe a medidas de modernização introduzidas na igreja pelo Concílio Vaticano 2º (1962-65).
Opa, opa! O responsável por suspender as excomunhões dos bispos lefebvristas foi o próprio Papa! Ele disse isso mais de uma vez! E aliás a Folhapress sabe disso, pois lá no fim do texto escreveu

Os comentários de Williamson e a decisão do papa de remover sua excomunhão -que visava a pôr fim a uma disputa de 20 anos dentro da igreja-
Então, qual foi o "erro" de Castrillón? Foi bem diferente de "ser responsável pela reabilitação de Williamson":

Mas o bispo britânico já havia feito comentários semelhantes antes do perdão -boa parte deles disponíveis na Internet - e Castrillón Hoyos foi criticado por não ter examinado o caso dele adequadamente e previsto a reação que se seguiria.
Do jeito que saiu a notícia na Folhapress, ficou parecendo que o Papa estava retaliando o cardeal Castrillón pela sua atuação no caso dos lefebvristas. Assim como os idiotas do Estadão fizeram parecer que o Papa tinha aceito a renúncia de dom José por causa do episódio de Alagoinha. Mas o que aconteceu de fato?

A incorporação da Comissão Ecclesia Dei à Congregação para a Doutrina da Fé já era algo amplamente conhecido. Só não se sabia quando ocorreria. Com o novo organograma, o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé se torna presidente da Ecclesia Dei. Além disso, o cardeal Castrillón já está com 80 anos, bem acima da idade de aposentadoria dos bispos. Ou seja, o entra-e-sai de prelados tem motivos puramente organizacionais. Querer atrelar a aposentadoria do cardeal Castrillón ao caso do bispo Williamson é forçar demais a barra. Mas o que esperar da Folha, némesmo?

E fica a pergunta: na manhã dessa quinta, quantos jornais terão caído no conto da Folhapress?

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Meus colegas exigem a minha volta

Pois é, amigos. Tenho andado bem ocupado cuidando do Tubo de Ensaio e do blog do Veritatis Splendor, do qual sou editor. Mas a notícia do Estadão online de hoje é tão, mas tão estúpida, idiota, imbecil, canalha mesmo, que preciso voltar aqui e mostrar pra vocês.

Vejam que título tosco:

Papa destitui bispo de PE que puniu vítima de estupro

Aqui, as únicas informações verdadeiras são que
1. houve uma decisão do Papa
2. o bispo era de Pernambuco
3. houve uma vítima de estupro

Fora isso, é tudo mentira. Os verbos estão todos errados.

Primeiro, que o Papa não "destituiu" ninguém. Ele simplesmente aceitou a renúncia de dom José, que já havia sido apresentada há um ano, quando o arcebispo completou 75 anos. Isso até chega a ser explicado na reportagem, ou seja, não há justificativa para afirmarem que dom José foi "destituído".

Segundo, que dom José não puniu a menina. Ele afirmou até não poder mais que a menina não estava excomungada. A canalhice persiste na reportagem:

(...) protagonizou um escândalo internacional ao excomungar uma menina de nove anos que passou por um aborto depois de ter sido violentada sexualmente pelo padrasto. (...) O arcebispo de Olinda e Recife se envolveu em um escândalo internacional no dia 5 de março, quando anunciou publicamente que o médico que realizou o aborto, a mãe que o autorizou e a menina vítima de estupro estavam sumariamente excomungados.
Mentira, mentira deslavada! É inacreditável que um jornal do porte do Estadão seja capaz de passar adiante um desvario desse tamanho!

E o pior é que vai haver muitos jornais reproduzindo essa insanidade...

Editado dia 2, 9h52 O Estadão consertou a matéria, mudando o título e retirando qualquer referência à suposta excomunhão da menina. Muito bem! Só não informou os leitores de que era uma errata. Mas tudo bem, a URL da reportagem continua atestando o crime cometido anteriormente...